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Titãs - Adreana Oliveira

Titãs celebram 40 anos de carreira com show recheado de boas histórias

Estamos vivos, atuantes e relevantes com 40 anos de carreira e nada melhor para celebrar isso do que um disco novo

Tony Bellotto
Branco & Britto & Bellotto no palco do Center Convention, em Uberlândia (Adreana Oliveira)

O que esperar quando você não está esperando? No caso dos Titãs, um bom show. Formato: Trio e acústico. O show faz parte da turnê de 40 anos do grupo paulistano e acontece no Center Convention, dentro da programação dos 30 anos do Center Shopping. Não dava para imaginar uma apresentação como aquelas que algumas gerações conseguiram assistir no Uberlândia Tênis Clube (UTC). E não é que a passagem “Titãs Trio Acústico” em Uberlândia, em 21 de agosto, conseguiu trazer um pouco daquela energia latente de início de carreira?

Escrevo este texto um dia depois da apresentação, quando o primeiro disco da banda, simplesmente “Titãs”, era lançado há 38 anos. Desse álbum três músicas entraram no repertório: “Sonífera Ilha”, que abriu a noite, “Go Back”, “Querem meu sangue” e “Marvin”. A discografia foi contemplada dentro do que permitem duas horas de apresentação.

Agradeçam aos irmãos de Sérgio Britto, tecladista, compositor e vocalista dos Titãs, pela ausência no apartamento onde ele e os amigos se encontraram antes mesmo de a banda ter um nome e trabalhar em canções como esta. Sobre “Gp Back”, Britto conta:

Tem gente que não sabe que é um poema do Torquato Neto que eu me atrevi a musicar quando tinha 17 anos, na solidão do quarto de um apartamento. Regravamos em espanhol no Acústico MTV de 1997, álbum que também celebramos nessa turnê.

Sérgio Britto
Trecho de “Go Back” no Center Shopping Festival (Adreana Oliveira)

E quem for assistir aos próximos shows poderá escutar essas histórias entre uma música e outra, provavelmente alternadas entre uma cidade e outra. Interessante ouvir o guitarrista e , compositor e vocalista Tony Bellotto e o baixista, compositor e vocalista Branco Mello sobre o que queriam fazer num possível primeiro disco.

A gente queria fazer uma música que o Jessé cantasse e fizemos ‘Sonífera Ilha’… mas a gente nunca tinha ouvido Jessé, de qualquer forma, fica o agradecimento pela inspiração.

Branco Mello

E por falar em inspiração, Branco Mello é o retrato da resistência em pessoa. Depois de duas cirurgias severas na garganta, a mais recente no final do ano passado para retirada de um tumor na hipofaringe – que quase o deixaram sem voz – ele voltou aos palcos recentemente. Ainda rouco, não alcança as notas como antes, mas não ficaria de fora dessa celebração, que tem um momento solo de cada vocalista. Com bom humor e determinação ele brincou antes de uma versão mais soturna que a já soturna “Cabeça Dinossauro” em uma versão “joãogilbertiana”:

Branco Mello introduz sua veresão “joãogilbertiana” de “Cabeça Dinossauro” (Adreana Oliveira)

Eu não falei pra vocês que eu ia cantar?

Branco Mello

O show tem espaço para lembranças da cidade em outras primaveras. Tony lembrou de uma namoradinha que tinha por aqui, motivo pelo qual voltou à cidade sem show marcado e da amizade da banda com um comissário de bordo que só não se lembrava o nome. Seria Randolfo ou Ranulfo? Compositor dos melhores de sua geração e escritor, nos Titãs ele sempre foi o cara das guitarras, junto com o saudoso Marcelo Fromer. Nessa nova roupagem dos Titãs, ele canta mais. Antes, faz referência às vozes que originalmente gravaram as canções, os ex-Titãs Paulo Miklos e Nando Reis.

O bom dos Titãs é que apesar de tanto tempo sempre estamos começando alguma coisa nova. Eu, por exemplo, estou começando a cantar depois dos 60. Sempre fui compositor. Preciso que vocês me ajudem nessa porque eu ainda não sou um cantor.

Tony Bellotto

Sérgio Britto é o cara “dos berros”, mas também o cara das baladas compostas ao piano numa mistura que ele mesmo classifica como uma mistura de bossa nova, MPB e música pop. No seu momento solo, o músico escolheu tocar “Epifania”, do seu álbum solo de mesmo nome, lançado em 2020, que dialoga muito com o que vivemos recentemente.

Tantas canções mesmo escritas em outros tempos, infelizmente, continuam atuais. Para Bellotto, essas discussões trazidas nas letras dos Titãs não são músicas de protesto. Músicas como “Comida”, do álbum “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” (1987), vai um pouco além disso mesmo. Em tempo, Britto contou um pouquinho sobre como foi concluir essa música no vídeo abaixo.

Sérgio Britto fala sobre um detalhe que faz toda a diferença em “Comida” (Adreana Oliveira)

Os Titãs sempre se diferenciaram não por músicas de protesto, mas por músicas que expressam rebeldia.

Bellotto

RECOMEÇOS

São muitas as configurações desde a São Paulo de 1985. Parafraseando o título de um desenho animado infantil, os jovens Titãs entravam em ação em um Brasil recém saído do regime militar. Eram outros, foram oito. A formação clássica, sete – Britto, Bellotto, Branco, Fromer, Arnaldo, Miklos, Nando e Gavin – necessitaria de frente e costas de uma camiseta para formar aquele layout bacana que vemos por aí que se popularizou fazendo referência aos Beatles: John, Paul,George & Ringo.

Bellotto falou como é bom poder olhar para trás, mas também gravar um disco novo para celebrar os 40 anos de carreira. O primeiro single já foi lançado, “Caos”, composição feita especialmente para os Titãs por ninguém menos que nossa rainha do rock, Rita Lee, com o marido Roberto de Carvalho e o filho do casal, Beto Lee.

“Caos”, nova música dos Titãs, composição feita para eles por Rita Lee, Roberto de Carvalho e Beto Lee (Adreana Oliveira)

E olha só aquelas coisas das estradas que acabam se cruzando. Beto Lee está com os Titãs desde 2016. Além de guitarrista ele também canta e compõe. Ao vê-lo no palco cantando “Televisão”, me peguei pensando por onde andava o Sombra. Quem acompanha os Titãs há muitos… muitos… muitos anos estava acostumado a ver o roadie ali nos bastidores. Certa vez, enquanto aguardava para tentar uma foto ou um autógrafo do então sexteto – vi Titãs pela primeira vez ao vivo em Uberlândia em 1996, na turnê de “Domingo”, portanto, depois da saída do Arnaldo Antunes – conversei um tempão com ele, que me contou que seu primeiro trabalho de roadie foi com a Rita Lee…

Além de Beto, a banda conta com Mário Fabre na bateria desde 2010.

Show com plateia sentada chega uma hora que não dá mais para segurar a vontade de sair correndo pra frente do palco e quase aconteceu isso durante “Polícia”. Bellotto falou do desafio de cantar essa música imortalizada na voz de Sérgio Britto. “Eu escrevi a música e mostrei pra eles. O Miklos olhou, não quis cantar. E o Britto pegou e disse ‘deixa comigo, eu canto’. Uma música que não tocou no rádio e mesmo assim virou um clássico”, comentou o guitarrista. Sobre ser o melhor cantor entre eles, Britto brincou:

Eu não canto, eu só berro… mas eu berro com estilo.

Britto

A banda encerrou com “Flores” e já que Branco Mello ainda recupera a voz coube ao público honrá-lo neste momento, e fez bonito. Não tinha mais ninguém sentado. Aos gritos de “Titãs”, “Titãs”, “Titãs” e “eu não vou embora” eles voltaram para o bis com “Homem Primata” e “Bichos Escrotos”. Nada mal para um domingo em meados de agosto.

Titãs encerram o show com o astral lá em cima e “Bichos Escrotos”(Adreana Oliveira)

E a turnê segue, logo tem disco novo. Vida longa aos Titãs!

Beto Lee, Sérgio Britto, Branco Mello, Mário Fabre e Tony Bellotto (Adreana Oliveira)

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