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"Misery" está em cartaz em Uberlândia (Foto: Leekyung Kim)

Temporadas de sucesso de “Misery” reforça o retorno do teatro nacional pós-pandemia

Em 1987, Stephen King presenteou os fãs com Misery – Louca Obsessão”, seu 21º livro, terceiro daquele ano. Já conhecido como “mestre do terror”, com sucessos um atrás do outro depois de sua estreia com “Carrie” (1974), King apresentou Paul Sheldon, um famoso escritor reconhecido pela série de best-sellers protagonizados pela personagem Misery Chastain. Após sofrer um grave acidente de carro, Paul é resgatado pela enfermeira Annie Wilkes, uma – se não a maior – fã de seu trabalho.

O livro ganhou versões para o cinema e para o teatro – dez ao todo – e a adaptação dirigida por Eric Lenate está no Teatro Municipal de Uberlândia neste final de semana, com ingressos esgotados para sexta (11) e sábado (12). Para quem não conseguiu ingressos desta vez, resta torcer para que o elenco volte, como vez em São Paulo, onde foram três temporadas de sucesso.

Paul Sheldon é vivido pelo ator Marcello Airoldi (confira entrevista abaixo). Annie é a personagem de Mel Lisboa e Alexandre Galindo é um personagem misterioso, responsável pelas inserções cômicas nesse suspense que conquistou o público brasileiro. Mais de 15 mil pessoas já assistiram essa versão desde a estreia no Teatro Porto, em São Paulo, no ano passado.

Stephen King já vendeu mais de 400 milhões de cópias dos seus livros, está entre os dez escritores mais traduzidos do mundo e já foi publicado em mais de 40 países. Porém, a peça também é indicada para aqueles que não conhecem a história.

Apresentado pelo Ministério da Cultura, com patrocínio da Porto e Start Química, “Misery” chega a Minas Gerais pelo Uberlândia na Rota do Teatro, com incentivo da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A versão é traduzida e adaptada para o português por Claudia Souto e Wendell Bendelack e conquistou o Prêmio Cenym da Academia de Artes no Teatro do Brasil (ATEB), nas categorias de melhores Sonoplastia e Qualidade Técnica.

“Misery” teve duas outras montagens nacionais para o teatro: a primeira, de 1994, chamava-se “Obsessão”, foi dirigida por Eric Nielsen e tinha como o casal protagonista Débora Duarte e Edwin Luisi. Em 2005 foi a vez de Marisa Orth e Luís Gustavo interpretarem a peça sob direção do espanhol Ricard Reguant.

A adaptação de Lenate é a primeira feita a partir do texto de William Goldman. Entre as versões internacionais, destacam-se a montagem da Broadway protagonizada por Bruce Willis e Laurie Metcalf, em 2015 e a versão mexicana de 2011, conta com Demián Alcázar e Itatí Cantoral.

Confira um trecho do espetáculo (WB Produções/Reprodução YouTube)

A ideia do diretor foi trazer um olhar contemporâneo para a obra. Ele comenta que a personagem da enfermeira Annie Wilkes, obcecada pelo escritor Paul Sheldon, sempre foi retratada no teatro e no cinema de forma estereotipada, como louca e histérica, enquanto Paul ocupava sempre o papel de vítima.

“Procuramos nesta montagem trazer uma Annie mais esférica, olhar para dentro dela e ampliar as possíveis leituras desta obra para além daquela que coloca o gênero feminino no lugar da instabilidade trágica que precisa ser comandada pelo masculino”, disse Lenate.

Lenate também assina a arquitetura cênica e os adereços, optou por um cenário circular, que esconde algumas partes sempre que mostra outras, uma transformação cênica que causa uma certa sensação de ilusão de ótica no público. O trabalho ganha ainda mais beleza com o desenho de luz de Aline Santini, figurinos e visagismo de Leopoldo Pacheco e Carol Badra, trilha sonora, sonoplastia e engenharia de som de L. P. Daniel e direção audiovisual de Júlia Rufino.

A direção de produção desta montagem é de Bruna Dornellas e Wesley Telles da WB Produções.

OUTRAS VERSÕES

No cinema, uma versão de 1990 tornou-se uma das adaptações mais conhecidas a partir da obra de King e consagrou-se como sua terceira maior bilheteria, atrás apenas de “The Green Mile” e “1408”. Kathy Bates ganhou o Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Atriz por sua performance. O filme teve direção de Rob Reiner e James Caan interpretou Paul Sheldon.

Trailer de “Misery – Louca Obsessão”, de dirigido por Rob Reiner” (MGM/Reprodução YouTube)

SINOPSE

Após sofrer um grave acidente de carro, o famoso escritor Paul Sheldon, conhecido pela série de best-seller sobre a personagem Misery Chastain, é resgatado pela enfermeira Annie Wilkes. Autointitulada a principal fã do autor, Annie se revolta com o desfecho trágico da personagem Misery descoberto em um manuscrito de Sheldon e o submete a uma série de torturas e ameaças.

ENTREVISTA COM MARCELLO AIROLDI

Paul Sheldon é o escritor vivido pelo ator Marcello Airoldi (Foto: Leekyung Kim)

Mesmo com os dois dias com ingressos esgotados em Uberlândia, o elenco de “Misery” atendeu aos pedidos de entrevista para compartilharem com os leitores, internautas, telespectadores e ouvintes da cidade como tem sido essa jornada neste clássico de Stephen King.

UBERGROUND: Uberlândia aguarda “Misery” com euforia. Fale um pouco sobre como foi o processo desde as primeiras leituras até a estreia.

MARCELLO AIROLDI: Nós demoramos um pouco mais de três meses, aproximadamente, por conta de algumas interrupções. Uma delas foi quando nós estávamos montando tivemos os feriados de final de ano e logo no começo de janeiro do ano passado a Mel [Lisboa] pegou covid e nós tivemos que desacelerar um pouco os processos de ensaio. Mas, foi um processo de ensaios muito longos durante o dia, os encontros eram longos para poder dar conta de montar um espetáculo nestas proporções.

Como tem sido o feedback do público pelos lugares onde passaram até agora? Pela resposta aqui em Uberlândia, com ingressos já esgotados, assim como foi em São Paulo no último final de semana por lá, podemos ter uma ideia…

M.A: O público realmente tem nos dado um retorno muito, muito positivo. As pessoas voltam mais de uma vez para ver o espetáculo. Fãs do Stephen King, da literatura, dos livros dele vão assistir ao espetáculo. A gente percebe que há um retorno ao do público ao teatro num período pós pandêmico pelo menos em vários espetáculos de São Paulo. E esse retorno não está somente na presença, na quantidade de pessoas que assistiram o espetáculo no Tuca, por exemplo, que era a terceira temporada da peça, mas também no compartilhamento da divulgação da peça no Instagram. Então o público realmente tem mostrado o quanto o espetáculo é querido por eles.

Qual o principal desafio em se trabalhar em um texto tão conhecido desse autor idolatrado pelo público de terror?

M.A: Alguns outros países trabalham um pouco mais no teatro esses temas que versam sobre mistério, terror e tudo mais. O Brasil não tem tanta tradição nisso. E fazer um texto que já foi sucesso na Broadway, sucesso no cinema e é um dos livros mais vendidos de Stephen King, é um grande desafio. Mas o Lenate, que é o diretor soube conduzir muito bem esse trabalho conseguindo manter essas características de mistério, de suspense intenso do espetáculo, de tensão… uma linha esticada o tempo todo de tensão, que o público fica grudado na poltrona, com alívios cômicos que ninguém esperava que ia encontrar num texto adaptado, no roteiro do William Goldman a partir da obra do Stephen King. Foi um desafio lidar com uma obra tão conhecida e que sempre tem comparativos. As pessoas fazem comparações sobre cinema, o livro, o que é que a peça trouxe, mas o que a gente tem visto inclusive na relação com o público é que o espetáculo é diferente de tudo que eles viram na abordagem de “Misery” e talvez por isso a peça tem sido um sucesso.

O que você mais gosta no seu personagem, Paul Sheldon?

M.A: São tantas coisas que eu gosto no Paul Sheldon, mas eu acho que tem um arco muito interessante porque é um homem que é poderoso, rico, nunca esteve subordinado a ninguém e de repente ele se vê numa situação que ele está completamente à mercê de uma pessoa que, num primeiro momento ele acredita, já que ela é a fã número um dele, vai dar tudo certo. Em breve ele vai voltar para casa, vai rever a família, vai rever sua empresária que cuida dos negócios. E ele percebe que essa fã número um não tá ligando exatamente para ele. E ele se frustra com relação ao destino que ele dá a “Misery”, o último livro. E isso muda completamente a relação dos dois. Ela passa a deixar ele enclausurado e ele perde as forças. Isso é legal porque ele não tem como agir contra ela porque ele está debilitado fisicamente. A transformação dele até o final por conta desse confinamento e de como ele conseguiu lutar contra a Annie [Wilkes] ou contra a pressão dela ou o que ela planeja fazer contra ele é muito interessante porque ele não sai da cama, não sai da cadeira de rodas. Tudo tem que ser de uma forma muito ardilosa, tem que ser de uma forma que o pensamento da personagem e a atitude dele está a partir da escuta, de como ela se comparta para que ele possa fazer algum plano para sair de lá. Essa transformação é muito interessante e é sempre um jogo incrível com a Mel [Lisboa] porque é uma troca muito grande, muito sincera, muito honesta entre nós atores, sempre com um desafio, uma provocação que é muita rica para o desenvolvimento dessas personagens. É uma delícia! Contar esse arco que o personagem tem, essa transformação que ele tem lidando com uma situação limite, absolutamente difícil de lidar que a Annie Wilkes propõe nesse cotidiano, nessa clausura que os dois estão vivendo.

A atriz Mel Lisboa dá vida à Annie Wilkes (Foto: Leekyung Kim)

QUEM FAZ O ESPETÁCULO ACONTECER

TEXTO ORIGINAL: Stephen King | DRAMATURGIA: William Goldman | TRADUÇÃO/ADAPTAÇÃO: Claudia Souto e Wendell Bendelack | ELENCO: Mel Lisboa, Marcello Airoldi e Alexandre Galindo | DIREÇÃO ARTÍSTICA: Eric Lenate | DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Bruna Dornellas e Wesley Telles | DESENHO DE LUZ: Aline Santini| ARQUITETURA CÊNICA E ADEREÇOS: Eric Lenate | FIGURINOS: Leopoldo Pacheco e Carol Badra | VISAGISMO: Leopoldo Pacheco | ASSISTENTE DE FIGURINO E VISAGISMO: Bruna Recchia | TRILHA SONORA, SONOPLASTIA E ENGENHARIA DE SOM: L. P. Daniel | DIREÇÃO AUDIOVISUAL: Júlia Rufino | ASSISTENTE DE ILUMINAÇÃO: Vinicius Andrade | DIREÇÃO DE ARTE PROJEÇÕES: Sylvain Barré | FOTOS: Leekyung Kim | CRIAÇÃO DA ARTE: Leticia Andrade | ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO: Mariana Leme | DIREÇÃO CENOTÉCNICA: Evas Carretero e Rafael Boesi | SERRALHERIA: José da Hora | DESIGNER GRÁFICO: Natália Farias | MÍDIAS SOCIAIS:  Ismara Cardoso | GESTÃO DE PROJETOS: Deivid Andrade | PRODUÇÃO EXECUTIVA: MARCOS RINALDI | TÉCNICO E OPERADOR DE SOM: Rodrigo Florentino | TÉCNICA E OPERADORA DE LUZ: Aline Sayuri | TÉCNICO E OPERADOR DE VÍDEOMAPPING: Alexandre Gonzalez | DIRETOR DE PALCO: Eduardo William | CONTRARREGRAS: Miguel Pereira, Pedro Ravel e Matheus Coelho | CAMAREIRA: Elizabeth Chagas | ASSISTENTE DE PRODUÇÃO: Bruna Sirena | COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVA: Letícia Napole | Assessoria Jurídica: Maia, Benincá & Miranda Advocacia | ASSESSORIA CONTÁBIL: Leucimar Martins | MARKETING CULTURAL E ASSESSORIA DE MÍDIA: R+Marketing

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