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Filmado em Uberlândia, “Big Bang”, de Carlos Segundo, premiado em Locarno, comprova a qualidade do audiovisual no interior do País

Plazza Grande, em Locarno, onde aconteceu a premiação no sábado (LFF)

O final de semana foi marcante para o cinema brasileiro. Pela primeira vez desde “Terra em Transe” (Glauber Rocha, 1967), um longa produzido no país ganhou o prêmio máximo do Festival de Locarno, na Suíça. A edição 75 premiou “Regra 34”, de Júlia Murat, com o Leopardo de Ouro. Mas antes desse anúncio veio outro mais significativo para a  produção audiovisual de Uberlândia e toda região do Triângulo Mineiro. “Big Bang”, de Carlos Segundo, levou o Leopardinho de Ouro na categoria Melhor Curta de Autor (Corti D´Autore), no programa “Pardi di Domani”, para curtas que fazem sua estreia mundial.

O diretor está em Uberlândia, trabalhando na série “Bola Pra Frente” e foi representado na cerimônia de premiação pelo ator Giovanni Venturini, que fez um discurso emocionado

Estar aqui hoje é muito significativo. Talvez essa seja a primeira vez que uma pessoa com deficiência está recebendo esse prêmio. Sou ator há 15 anos e tenho fugido de personagens estereotipadas por anos. Eu estava num momento bastante desmotivado com a indústria brasileira de cinema quando veio o convite para protagonizar ‘Big Bang’, que me encheu de esperança novamente

Giovanni Venturini

O ator agradeceu ao diretor brasileiro e à produtora francesa Les Valseurs e disse que o filme foi um “presente” para ele e o prêmio não é apenas para quem trabalhou no filme, mas para “todos os corpos invisíveis na sociedade”.

Em depoimento ao Uberground, Carlos Segundo disse que um ano depois de estar com um filme concorrendo à Palma de Ouro em Cannes, apresentar um novo filme em Locarno e ser premiado, é um feito muito singular. Sabendo ainda que ambos os filmes, “Sideral” e “Big Bang” foram realizados com uma produção modesta e em meio a um período de total cegueira artística e cultural por parte governo atual, torna esse momento ainda mais especial.

Sou muito grato por cada um que cruzou meu caminho e me ajudou a trilhar essa história. Em ‘Big Bang’, sou muito grato por ter conhecido e trabalhado com Giovanni. Que pessoa generosa e talentosa. Um ser iluminado

Carlos Segundo

Recentemente entrevistei Carlos Segundo para uma reportagem do Jornal da UFU sobre produção audiovisual. Ele comentou sobre o talento de Giovanni, um ator que tem nanismo, a quem conheceu por meio de amigos em comum, de Uberlândia e São Paulo.

Na noite deste sábado (13) durante a celebração de 10 anos da Noite Literária, o músico e escritor Enzo Banzo, assim como grande parte dos fazedores de arte de Uberlândia, além do lançamento do livro “Copo de Sede” (Ed. Subsolo), tinha outro motivo para comemorar. Uma música de sua banda, Porcas Borboletas, está na trilha do filme. “It´s only life” foi feita a partir de um poema de Paulo Leminski (1944-1989).

Na ficha técnica (veja abaixo) muitos nomes conhecidos na cidade, o que significa que o nome de Carlos Segundo está no troféu, mas é uma conquista de um grande grupo. Nara Sbreebow, também cineasta, em “Big Bang” atuou como diretora de arte.

“Todo mundo trabalhou direitinho, de forma coesa, o Carlos trouxe um roteiro e uma direção lindos, com um protagonista super potente, o Chico, interpretado pelo Giovanni, que brilhou na história. Filmamos durante a pandemia em Uberlândia, com um orçamento muito pequeno, mas uma equipe muito amiga, todo mundo deu o seu melhor”, disse Nara em entrevista ao Uberground.

SINOPSE

Chico (Giovanni Venturini) em cena de “Big Bang”, curta filmado em Uberlândia, premiado em Locarno (Roberto Chacur)

“Big Bang” narra a história de Chico, um homem com nanismo que trabalha consertando fornos. Solitário, ele vive um conflito interno contínuo, resultado do sentimento do abandono familiar – principalmente o paterno – e da exclusão social que normalmente o persegue. Mas Chico irá pouco a pouco descobrir uma forma de resistência e, por que não, de vingança. 

PARCERIAS

O diretor Carlos Segundo no estádio do Parque do Sabiá, uma das locações de sua nova série (Adreana Oliveira)

Carlos Segundo foi indicado à Palma de Ouro no 74º Festival de Cannes em 2021. Não levou o prêmio mas se considera grato pela indicação e por estar lá representando o Brasil com “Sideral”. “Foi uma experiência incrível estar lá naquele meio, com aquelas pessoas, e agora estamos em uma outra fase com ‘Sideral’, queremos levá-lo ao Oscar”, disse ele em entrevista ao Uberground.

Pouco mais de um ano depois, a indicação em Locarno, um dos quatro maiores festivais de cinema do mundo – ao lado de Cannes, Berlim e Veneza – mostra que ele está no caminho certo. Em material de divulgação de “Big Bang” ele elogia Locarno por apresentar anualmente uma seleção pautada pela busca de filmes que se colocam em um território da criação autoral e do risco. 

O curta se constrói em meio a um vasto cruzamento geográfico e cultural. Produzido pela O Sopro do Tempo, aqui de Uberlândia, e a Les Valseurs (França), o curta foi filmado em aqui na cidade, idealizado e montado em Natal (RN), finalizado e distribuído em Paris (FR). No Brasil, o filme ainda será distribuído pela Casa da Praia (RN). Além de Giovanni, que é paulista, no elenco principal conta com a mineira Aryadne Amâncio.

O Uberground recebeu a notícia da premiação, realizada às 10h da manhã de sábado (horário de Brasília), pelo produtor Cristiano Barbosa, que acompanhou a transmissão via internet. Para ele, “Big Bang” é mais um testemunho do potencial criativo e da qualidade dos profissionais que atuam na borda do eixo Rio-São Paulo, principal mercado de cinema do Brasil. 

Uberlândia a cada ano se consolida como um importante núcleo de produção audiovisual. Desde 2009 realizamos 23 filmes, sendo 11 curtas e 4 longas metragens foram produzidos aqui. ‘Big Bang’ é mais uma importante conquista para todos que trabalham para o fortalecimento do cinema independente do interior do Brasil

Cristiano Barbosa

Para o produtor, “Big Bang’ é mais uma importante conquista para todos que trabalham para o fortalecimento do cinema independente do interior do Brasil.

Para Carlos Segundo, o curta marca a consolidação de uma estética muito particular, a construção de narrativas concretas, mas ao mesmo tempo fabulativas e poéticas em torno do universo de personagens ordinários que são conduzidos ao limite do possível e do impossível da vida. 

Depois da notícia da premiação, que recebeu durante a produção de “Bola Pra Frente”, Carlos Segundo publicou uma mensagem no Instagram agradecendo à sua equipe e parabenizando também Júlia Murat por seu Leopardo de Ouro.

Uma explosão de felicidade por aqui e o coraçãozinho não sabendo como lidar com tudo isso… Parabéns demais ainda para a querida Júlia Murat pelo Pardo d´oro na Competição Internacional com o também bombástico ‘Regra 34’. O Brasil com tudo na Suíça

Carlos Segundo
Giovanni Venturini e o representante da Les Valseurs em Locarno (Instagram Les Valseurs)

QUEM FEZ O FILME ACONTECER

DIREÇÃO E ROTEIRO: Carlos Segundo | PRODUÇÃO: Cristiano Barbosa (BR); Damien Megherbi, Justin Pechberty | ELENCO: Giovanni Venturini, Aryadne Amâncio, Letícia Teixeira, Ronan Vaz, Narlo Santos, Lobo Guimarães, Carla Luz, Eduardo Bernardt, Maria Lyra, Maurício Winckler, Érica Rossi | DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Cristiano Barbosa |  ASSISTENTE DE DIREÇÃO: Cauê Pereira | DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA: Roberto Chacur | ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: Rafez Chacur |  DIREÇÃO DE ARTE: Nara Sbreebow | FIGURINO E OBJETOS: Sofia Benetti e Nara Sbreebow | MAQUIAGEM E EFEITOS: Fernanda Felice | PLATEAU E CONTRA-REGRA: Marco Paraná | MONTAGEM: Carlos Segundo, Jérôme Breau | SOM DIRETO: Nemer Castro | MIXAGEM: Vincent Arnardi | COLORISTA: Caíque de Souza | TRILHA MUSICAL: Porcas Borboletas: “It´s only life”, Luciano Carvalho: “I love cerveja”

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