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A Arena Eurobike recebeu um público aproximado de 20 mil pessoas para ver "End of the Road Tour" (Foto: Murilo Cortes)

Em turnê de despedida, Kiss personifica o eterno no último show da carreira no Brasil

Gene Simmons, Tommy Thayer, Paul Stanley e Eric Singer ao fundo, o Kiss durante show em Ribeirão Preto (Foto: Murilo Cortes)

Domingo, 1º de maio de 2022. Eurobike Arena Ribeirão Preto (SP), ou Santão, para os locais. O estádio recebeu um público aproximado de 20 mil pessoas em seu primeiro grande show internacional. E já entrou para a história, pois esta foi a última performance do Kiss em solo brasileiro. A turnê “End of the Road”, que segue até outubro, é a despedida deles dos palcos. Para fãs do Triângulo Mineiro, essa apresentação teve um gostinho meio amargo (leia mais abaixo).

O Uberground, de Uberlândia, partiu para Ribeirão Preto em uma das excursões que saiu da cidade, na tarde de domingo. Na noite anterior (30/04), o Kiss lotou o Allianz Parque – sold out! A etapa brasileira da turnê teve início em Porto Alegre (26/04) e passou por Curitiba (28/04).

A “End of the Road” já chegou com uma pegada nostálgica. Para os fãs de rock na faixa dos 40 e poucos anos – não apenas do quarteto novaiorquino – Kiss, como instituição do rock mundial, existe desde que se entendem por gente. Em fevereiro deste ano, o álbum de estreia “Kiss” (Casablanca Records), completou 48 anos.  O disco contou com a dupla fundadora, o guitarrista e vocalista Paul Stanley (a Estrela) e o baixista e vocalista Gene Simmons (o Demônio) e ainda o guitarrista Ace Frehley (o Extraterrestre), que ficou entre idas e vindas até 2002 e o baterista Peter Criss (o Felino), que permaneceu no grupo até 2004.

Em uma contradição irônica neste momento de despedida – por mais que há quem acredite ser mais uma das (ótimas) jogadas de marketing da banda –, no palco da Eurobike Arena o Demônio Simmons, a Estrela Stanley, o guitarrista Extraterrestre Tommy Thayer e o baterista Felino Eric Singer eram a personificação do eterno.

Os fundadores que há cerca de 50 anos eram apenas moleques pensando em ter uma banda de rock (Foto: Murilo Cortes)

Por aproximados 120 minutos eles ofereceram ao público um espetáculo no sentido mais amplo da palavra. Impossível desgrudar os olhos do palco. Impossível não se deslumbrar com a vitalidade desses jovens senhores na faixa dos 70 anos de idade. Impossível pensar em qualquer outra coisa senão estar ali. A sensação desta repórter foi ter rejuvenescido 10 anos em 120 minutos. Difícil acreditar que agora acabou.

Afinal, antes de “100,000 Years” o solo de bateria de Singer deixava todo mundo de boca aberta, pelo jogo de luzes, pela elevação, pela tecnologia que o tira do lugar, mas tecnologia nenhuma tem aquela ferocidade nos pedais duplos. E ainda dá tempo de fazer charminho para as câmeras.

Vertigem passa longe dessas lendas. Em “God of Thunder”, ver Gene Simmons a cerca de 23 metros de altura, sobre aquelas plataformas, tocando seu baixo, cantando e cuspindo sangue falso com trovões ao fundo é de dar calafrios em quem tem medo de altura.

Gene Simmons mostra equilibrio e “sangue frio” nesta performance nas alturas

Stanley atravessou a Arena até o palco B num cabo de aço e desceu requebrando. Deve haver alguma tecnologia muito específica para as botas dessa banda. Alguns dos registros que fiz pelo celular estão nesta playlist no YouTube.

Paul Stanley anuncia que quer ficar mais perto da galera, e vai pro palco B

Durante alguns momentos os músicos, principalmente Stanley e Simmons, faziam questão de lembrar o ineditismo daquele palco, a primeira vez em uma cidade depois de quase 50 anos de carreira. Faziam graça, caras e bocas, mandavam beijos.

Confira aqui o setlist do show da banda no Brasil. Eles resistiram em um mercado que se torna cada vez mais imediatista e frio. Eles fora de cena esfregam a mortalidade na nossa cara. E como será um mundo sem o Kiss?

Não será… porque a entidade, o que eles representam, não vai desaparecer. Enquanto tiver uma criança cantarolando “Shout it, shout it, shout it out loud”, enquanto tiver uma banda tocando “Rock and Roll all nite”, enquanto tiver uma estação de rádio tocando “God gave rock and roll to you”, enquanto vermos Felinos, Extraterrestres, Estrelas e Demônios pintados com pasta d’água ou com os produtos da linha de maquiagem mais cara, eles estarão aqui. Nós, talvez não. Portanto, nobres, engraçados, desbocados e divertidos senhores, sem mais, obrigado.

Kiss cola Do You Love Me? em Rock and Roll All Nite e a gente faz o que? (Por Adreana Oliveira)

TURNÊ BRASILEIRA

Adiada por quase dois anos, a turnê “End of the Road” e deixou marcas por aqui. Um mar de pessoas… gente grande, gente pequena… maquiagem borrada pelo suor, olhos avermelhados depois do choro. Um rombo no cartão de crédito… mas uma troca de energia que só concertos nesse formato proporcionam.

A pandemia da Covid-19 fez com que isso desaparecesse por dois anos. Olhar pro lado, ver estranhos que naquele momento compartilham de algo que era só seu. A pandemia levou muita gente, mas nós sobrevivemos.

E o entretenimento ainda não retomou por completo seu potencial. Pelas fotos e vídeos vocês podem perceber que a estrutura do Kiss é gigantesca e seria desmontada em três horas, com o trabalho de 200 carregadores. Para que esse show aconteça, tem muito mais do que quatro caras no palco.

No Brasil, o primeiro anúncio da turnê trazia seis datas – Uberlândia entre elas. O jornal Diário de Uberlândia publicou uma entrevista com o guitarrista Tommy Thayer há 73 dias da data prevista para a cidade, 19 de maio de 2020.

Veio o primeiro adiamento, para novembro do mesmo ano, Uberlândia remarcada para 12 de novembro. Veio o segundo adiamento e Uberlândia e Brasília saíram da lista.

OPINIÃO

Uberlândia, no interior de Minas Gerais, é uma cidade com porte semelhante a Ribeirão Preto. Os primeiros grandes shows internacionais da BConcerts, responsável pelo show do Kiss em Ribeirão Preto, junto da Mercury Concerts, foram feitos em Uberlândia – que recebeu de Simple Plan a New Order, de Slash a Scorpions.

Mas nos anos 1990 a cidade recebeu shows de grandes turnês, como A-ha e Information Society (1991), e até Shakira (1997) em uma feira agropecuária. Nos anos 2000 se apresentaram artistas como Paul Di´Anno (2007), festivais como Metal Singers (com direito a Blaze Bayley e Udo Dirkschneider no palco em 2015), CJ Ramone (2014/2015), Mudhoney (2014), entre outros.

A cidade não é somente a terra de Alexandre Pires e do Só Pra Contrariar, que a representam bem no segmento de samba e pagode. É a terra onde surgiu o Porcas Borboletas, entre tantas outras que levaram o nome do município para outros países. E, para os mais jovens, a cidade onde Pabllo Vittar começou a carreira.

Mas por que Uberlândia “perdeu” shows como o da próxima turnê do Guns N’ Roses – que vai para Ribeirão Preto no segundo semestre? Oficialmente, não tenho uma resposta. Empiricamente, pela vivência e observação dessa cena há um bom tempo, falta uma rede que se movimente em prol desses grandes eventos e também dos pequenos, por que não?

A vinda de uma banda como Kiss para uma cidade representa receita para muitos setores além do entretenimento. Bem feito, divulgaria o turismo da região, culinária, artistas locais. Esse não é trabalho de uma produtora ou de um produtor somente. É preciso ter parcerias dos setores público e privado e contar com profissionais capacitados, o que não é barato. Por isso, enquanto entretenimento for entendido como algo supérfluo, a cidade com ares de metrópole continuará sucumbindo a um certo bairrismo e perdendo grandes oportunidades.

Por isso, lá no início dessa resenha, escrevi que o show de Ribeirão Preto teve um gostinho meio amargo para quem chegou lá com o ingresso comprado para Uberlândia. E foi lá que todo mundo que saiu daqui pôde viver uma experiência inédita e inesquecível que não é medida em números. Mas foi para lá também o nosso dinheiro revertido nos impostos de produtos e serviços referentes a tudo que consumimos além da música.

2 thoughts on “Em turnê de despedida, Kiss personifica o eterno no último show da carreira no Brasil

  1. KISS voltou ao Brasil para 5 shows em abril de 2023: Manaus, Brasília, Belo Horizonte, Florianópolis e no festival Monster of Rock em São Paulo.

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