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Tropicália ontem, hoje e sempre

Lu de Laurentiz é o anfitrião do show Festival de MPB – Viva a Tropicália (Foto: Cristiano Barbosa)

Ah o Brasil. Se por um lado nos envergonha alguns de seus (des) governos, por outro nos encanta a riqueza de suas culturas, de suas histórias, de sua música que é só sua. Lugar nenhum nesse mundo cada vez mais sem fronteiras originou talentos que nos deram a Tropicália, um movimento não só musical, mas artístico-cultural ainda sem comparativo nos dias de hoje.

E para celebrar esse movimento, artistas uberlandenses fazem nesta quinta-feira (9), um show especial, o Festival de MPB – Viva a Tropicália. E assim como são diversas suas vozes, assim são os perfis dos cantores e cantoras que se apresentarão nesta noite acompanhados pela banda formada por Cícerus Cajuzinho (bateria), Marcelo Carvalho (guitarra), Marcelo Reis (contrabaixo) e Marcos Vinícius (teclados).

Músicas de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Gal Costa e Tom Zé, entre outros, serão interpretadas por Adriana Francisco, Anísia Uchôa, Diego Caaobi e Iuri Resende. Participação especial de Edson Denizard. E se você não leu essa reportagem a tempo de acompanhar a estreia, basta clicar no link do canal e conferir, vai ficar salvo.

Gravado em espaço aberto em Uberlândia, com várias referências à época, e também cumprindo as regras impostas por esse momento de pandemia, o show, idealizado pela produtora Antônia Nunnes, com produção da Viva Marketing Eventos e Cultura,  e Mari Simões, da Seuseth Produções, tem um anfitrião à altura da magnitude do evento que celebra.

Me lembro da primeira vez em que estive com Lu de Laurentiz. Faz mais de 20 anos, estava no primeiro ano da faculdade de Jornalismo e ele foi indicado por uma amiga, Beatriz Masson, como uma boa “fonte” para falarmos sobre movimentos contraculturais. E a Tropicália estava ali naquele seminário. Outra pessoa que participou com todo seu talento cantando “Domingo no Parque” foi Edson Denizard. Hoje, assim como guiou a minha turma naquela época, Lu de Laurentiz vai levar o espectador para uma viagem nesse movimento que não foi só musical, permeou uma época, com o ápice entre os anos 1967e 1969, acompanhando mudanças profundas nas artes, na política e na economia brasileiras.

LEGADO

Em tempos estranhos como esses, a música é mais que um refúgio para Lu de Laurentiz, professor universitário por vocação, agitador e militante cultural por paixão. E a música traz as pessoas pra perto, mesmo que, por hora, pra perto de uma tela. E essa tropicália que é só nossa deixou um legado e tanto sobre o qual Lu, que atualmente faz o curta radiofônico “Janela cultural”, no programa Trocando em Miúdos, da Rádio Universitária. Ele também segue desenvolvendo pesquisa sobre as contraculturas enquanto etapas das invisibilidades na arquitetura e na cidade e cultura urbana na situação contemporânea construída.

“A  música nunca é um fundo para mim. Paro pra ouvir. Me silencio. Procuro informações sobre ela. Dela, posso ir pro disco, pro artista e leio algumas páginas na internet em críticas e tenho feito muitas playlists temáticas que chamo carinhosamente de ‘fita k-7’”, comentou Lu em entrevista ao Uberground. Ele utilizava esse processo quando preparava o “Olhar radiofônico”, programa que apresentou entre 1989 a 1996, na rádio Universitária.

Enquanto respondia a entrevista, Lu se lembrou de uma frase do tropicalista ilustrador, músico, escritor e designer Rogério Duarte (1939-2016), presente no documentário “Tropicália” (2012, Marcelo Machado): “Ali era o lugar que comportava todas as contradições”.

“Como estratégia estética, na Tropicália, principalmente, no disco manifesto [“Tropicalia ou Panis et Circenses”], ali, tem uma ambiguidade de linguagem – a Tropicália questiona as categorias do saber. Daí, vem aquelas duplas chamas colocadas como possibilidades de gosto e de jogo-colagem como o arcaico e o moderno; o nacional e o internacional. Então, aí, nela, cabem as afinidades eletivas. Pois, as vanguardas vivem e podem sobreviver graças às próprias contradições da realidade em que elas surgem e nós sabemos em que período e que em contexto histórico a Tropicália surgiu”, explicou.

Lu afirma ainda que outro ponto marcante foi que esse movimento nos deixou foi com a sua insurgência poética, seu ativismo e essa integração arte-vida em androginia; carnavalização, alegoria; performance via corpo-linguagem e, o melhor, em diversas linguagens artísticas.

Pergunto a Lu o porquê de um movimento desses não se repetir, e ele permite-se divagar.

“Para a música, talvez, pelo fato de que os tropicalistas estão hiper vivos, ativos, atuantes e estão bem interessados no que acontece agora. Uma característica deles desde lá atrás, no passado. Então, nessa minha especulação, o Tropicalismo ainda está pulsante, mas não como era e foi em 1960. Ao mesmo tempo, esses artistas são gurus de novas gerações de artistas. Hoje, em dia, a difusão do movimento tem rendido exposições e retrospectivas pelo mundo, aí pairando, talvez, a fetichização, a academização – enfim, o lado monumento. Até aí, nada mal, porque de volta aos nomes de Caetano, Gilberto Gil, e Tom Zé, me parece que eles propõem o assunto do Tropicalismo como algo a ser vivido e pensado cotidianamente em um processo de atualização. … isso me parece bárbaro porque não é nostálgico”.

DICAS DO LU

O Lu separou para vocês alguns nomes de “herdeiros” do movimento Tropicalista surgidos a partir dos anos 2000. Então, anote aí e divirta-se enquanto o show não começa:

Banda do Teatro Oficina

Céu

Chelpa Ferro

Francisco, El Hombre

Jonas Sá

Marcela Bellas

Otto

+2 [Moreno Veloso, Kassin e Domênico]

Porcas Borboletas

Trupe Chá de Boldo

Tulipa Ruiz

OFICINAS

Nos próximos dias serão oferecidas duas oficinas gratuitas, dentro do Festival de MPB – Viva a Tropicália, no canal do projeto no YouTube.

13/06 às 16h: “Criação Criacanto – Tropicália”. Esta oficina será ministrada por Juliana Penna e abordará a escuta e apreciação da canção “Tropicália” como uma espécie de síntese do Movimento Tropicalista e suas interfaces estéticas com outras artes. O que será abordado: análise da letra conjugado ao arranjo musical e suas relações com outras artes e símbolos da nossa cultura brasileira.

15-06 às 19h: “Reinvenções dos artistas na Pandemia”. Um bate papo sobre como os músicos se reinventaram neste período e conseguiram dar a volta por cima. Será conduzido por Antônia Nunnes, produtora cultural, com os artistas Edson Denizard e Mari Simões falando dos desafios e das oportunidades e também dos novos caminhos que estão se abrindo para a cultura nessa nova era que estamos entrando.

SOLIDARIEDADE

O Festival de MPB – Especial Viva a Tropicália, apoia a ONG Bella Aquarela, um projeto social que atua na área de saúde realizando um trabalho de assistência e acompanhamento dos pacientes e suas famílias por meio da doação de cestas básicas, produtos de higiene e interação com crianças internadas juntamente a suas famílias. Para quem se interessar em ajudar a causa basta entrar em contato pelo whatsapp: (34) 99996-8772.

O festival foi viabilizado com recursos da Lei Aldir Blanc da Secretaria de Cultura e Turismo de Minas Gerais e do Governo Federal.

SERVIÇO

O QUE: Festival de MPB – Viva a Tropicália
QUEM: Adriana Francisco, Anísia Uchôa, Diego Caaobi e Iuri Resende. Participação especial de Edson Denizard
QUANDO: hoje (10/06), às 20h30
CANAL: Festival de MPB – Viva a Tropicália no YouTube

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