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TITÃS ENCONTRO POR DANILO MARQUES

Titãs no Encontro em carne, osso e emoção

No próximo ano o álbum “Titãs” completa 40 anos. Nele está a música “Sonífera Ilha”, que fechou os shows da turnê Titãs Encontro: Todos Ao Mesmo Tempo Agora, a reunião da formação mais clássica da banda, que chegou ao fim em terras brasileiras.

“Vamos tocar uma música para vocês que quando a gente começou, a gente tocava ela no início do show, no meio, quando a galera já estava meio desanimada, e no final”, disse Paulo Miklos antes dos primeiros acordes de “Sonífera Ilha”. Do álbum homônimo também foram tocas “Go Back”, “Marvin” – uma das mais pedidas – e “Toda Cor”.

Até o momento, há somente quatro oportunidades para ver esse show fora do país. A banda tem duas datas na Europa e duas nos Estados Unidos. Depois, esperam os fãs, um registro em DVD seria muito bem vindo para eternizar momentos que só quem esteve nas arenas por onde a turnê passou pode sentir.

O Uberground acompanhou o último show da turnê no Brasil, no Estádio Palma Travassos (Comercial), em Ribeirão Preto, na sexta-feira, 30 de junho, mais um com ingressos esgotados e um público estimado de 50 mil pessoas.

E se no início dos anos 80 os Titãs precisavam tocar “Sonífera Ilha” três vezes num show para segurar público, 40 anos depois faltam horas para tantos sucessos. Eles fizeram questão de fazer um apanhado dos álbuns em que estavam os oito – depois da morte de Fromer – sete, juntos.

“Onde é que fica o Brasil?”, perguntou Arnaldo Antunes andes de começar “Lugar Nenhum”. Na plateia, a maior parte do público era de fãs “das antigas”. Uma geração que conheceu a ditadura, que cresceu sem o direito de questionar nada e ninguém.

Arnaldo Antunes, Paulo Miklos, Nando Reis e Tony Bellotto (Foto: Danilo Marques)

“Lugar Nenhum” é de “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”, lançado dois anos após o fim do regime militar, antes de cantar a música que dá nome ao disco, Nando Reis comentou. “Parece que até hoje tem muita gente que não entendeu essa mensagem”.

Com a ameaça à democracia que o país viveu nos últimos anos, desse mesmo álbum, “Nome aos Bois”, ganhou mais um nome: Bolsonaro. No dia desse show de Ribeirão Preto, o ex-presidente foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e o fato não passou em branco. A noite foi denominada por “histórica”, em mais de um momento da apresentação e assim como “Ti-tãs, Ti-tãs” ouviu-se também e coro “i-ne-le-gí-vel, i-ne-le-gí-vel”.

Branco Mello, curado de um câncer que quase o deixou sem voz, foi ovacionado pelo público mais de uma vez. O músico ia de um lado para o outro do palco receber os aplausos e os gritos de uma audiência grata por tê-lo ali cantando “Tô cansado” ou “Eu Não Sei Fazer Música”.

Branco Mello (Foto: Danilo Marques)

Teve ainda outro motivo para o show ser ainda mais especial. Era aniversário de Tony Bellotto. O guitarrista completou 63 anos no palco, com a família Titãs no gargarejo e dividiu os holofotes como Neto, Antônio, que compartilha nome e aniversário com o avô. Em tempo, as duas bandas de abertura contam com “filhos de Titãs” na formação (leia mais aqui).

O show é dividido em três partes, com um set acústico entre os sets plugados. Com o palco configurado de forma mais intimista. “Epitáfio” abre o set com direito a lanternas de celulares ligadas iluminando o estádio. Alice Fromer se junta à banda e canta “Toda Cor” e ao lado de Arnaldo Antunes, “Não Vou Me Adaptar”, enquanto a imagem de Marcelo Fromer (1961-2001) é projetada nos telões.

Arnaldo Antunes e Alice Fromer (Foto: Danilo Marques)

Neste formato e mais fácil para quem está nas laterais do palco ver Charles Gavin mais de perto. O baterista tem uma pegada única, pautada por muita classe e fúria ao mesmo tempo. O coração da banda está inteiro.

O baterista Charles Gavin (Foto: Danilo Marques)

“AA UU”, “Família”, “Cabeça Dinossauro”, “Televisão”, “Flores”. O que não faltaram foram músicas que dialogavam com diferentes gerações. Na grade, à esquerda do palco, duas meninas que deveriam ter entre 7 e 10 anos cantaram a maioria das músicas. Adolescentes também compareceram em grupos, assim como muitas… muitas famílias inteiras.

Esse show é uma celebração à vida, ao rock nacional e a um Brasil tão diverso quanto seus talentos, feito com uma estrutura de primeiro mundo e que só foi possível com centenas de profissionais nos bastidores, a quem Miklos agradeceu ao vivo.

PROTAGONISMO MULTIPLICADO

Paulo Miklos, Sérgio Britto e Liminha (Foto: Danilo Marques)

Não foi nostálgico, não foi saudosista, não estava fora de lugar. O show Titãs: Encontro – Todos ao mesmo tempo agora não é nada menos que atual, energizante e muito necessário em um país que não costuma ser muito gentil com seus artistas e num mercado que tende a ser bastante cruel com quem não está nos anos áureos da juventude.

A série de shows iniciadas em abril teve seu capítulo final em terras brasileiras no dia 30 de junho, em Ribeirão Preto, interior paulista. Uberlândia, cidade que recebeu quase todas as turnês da banda paulistana, ficou fora dessa turnê histórica, o que não impediu que muitos uberlandenses viajassem para cidades contempladas.

Um encontro em carne, osso e emoção. É o que resume assistir ao vivo e em cores Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto juntos. Coube a Liminha a tarefa de substituir, nessa tour, as guitarras de Marcelo Fromer, também representado na tour pela filha, a cantora Alice Fromer.

Ao longo de quase 40 anos de carreira a banda mudou em estilo e formação, respeitando a essência e o tempo de cada um. Porém, deve-se destacar que em nenhum momento vimos um Titãs sendo mera caricatura de si mesmo. Em nenhum momento Branco tentou ser o Miklos, Sérgio tentou ser o Arnaldo porque a obra dos Titãs vai além do ego de cada um dos integrantes ou ex-integrantes, são retratos de uma juventude que envelheceu, e bem, diante de todas as adversidades, modismos e sucessos descartáveis.

No palco não tinha espaço para um protagonista. Eram todos protagonistas, cada um no seu espaço, seja atrás do instrumento, nos backing vocals ou no vocal principal. E do lado da plateia, a gente percebia uma entrega digna de uma banda relevante em qualquer tempo.

Titãs na abertura do show em Ribeirão Preto com a música “Diversão” (Adreana Oliveira/Uberground)

Confira aqui alguns momentos do show de Ribeirão Preto.

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