Simpósio de jornalismo musical traz discussões necessárias para quem escolhe esse caminho
O primeiro Simpósio de Jornalismo Musical começou na noite de quarta (01/02), em Belo Horizonte. A capital mineira coloca na roda temas muitas vezes negligenciados no dia a dia de uma profissão em constante transformação. Jornalistas e pesquisadores de várias cidades compartilham experiências com uma plateia composta por estudantes da área de comunicação social e entusiastas da arte. O simpósio tem patrocínio da prefeitura de Belo Horizonte e da Belotur.
Na primeira noite, o espaço da produtora Quente viu esquentar as discussões sobre os rumos do jornalismo musical em um país multicultural. Porém, talvez graças às janelas com vistas deslumbrantes dessa metrópole, a temperatura não chegou a incomodar, porque diante de tantas adversidades, vislumbram-se possibilidades, mesmo que o primeiro encontro tenha deixado mais perguntas do que respostas.
Para quem escolhe o jornalismo musical – que vai muito além de “assistir show de graça” – o caminho é cheio de encruzilhadas. É muita sola de sapato gasta, incontáveis quilômetros rodados porque nem sempre é possível voar, horas e horas de conversas e entrevistas, datas importantes longe da família e muitas noites trocadas por dias perdidos entre blocos de anotação e insights que podem dar fornecer ao leitor uma reportagem de qualidade para que ele viva uma experiência dentro de outra experiência.
Organizado pela Quente e pela organização sem fins lucrativos Reverbera, o simpósio reúne jornalistas de diferentes épocas e vertentes, que compartilham suas histórias. O evento é dividido entre apresentações de artigos e pesquisas, no qual os profissionais foram selecionados via chamada pública – entre elas o Uberground – e convidados selecionados pela curadoria que tem o jornalista e produtor Marcelo Santiago à frente.
ARTIGOS E PESQUISAS
A pesquisadora e musicista Bruna Vilela, jornalista, musicista e mestranda em Estéticas e Culturas da Imagem e do Som Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), abriu o simpósio falando sobre a sua pesquisa sobre o funk mineiro e reconfigurações de gênero musical. Sua pesquisa traz o questionamento “BH é quem?” e o funk de Belo horizonte é seu principal objeto de trabalho. “Em que contexto surge esse funk de BH está conquistando cada vez mais espaço? Quem são os homens e mulheres por trás dessa cena e o que a difere das demais?”. Essas são algumas das perguntas que a jornalista pretende responder até maio.
O Uberground levou para o público a experiência do jornalismo musical no interior do Brasil. As dificuldades, as particularidades e a importância da pesquisa na hora de repensar o dia a dia da profissão. Muitos dos presentes conheciam a cidade ou por nome, ou por alguma banda e outros já estiveram na cidade em uma ou outra função. Bruna Vilela se apresentou com a Lava Divers, Marcelo Santiago participou de transmissões nos primeiros anos do Arte na Praça, entre outros.
Rafael Andrade, doutorando pelo programa de pós graduação em Comunicação Social da UFMG com pesquisa sobre festa e festividade, falou das motivações para o e-book “Centenas de casos de amor: as performances do brega em Reginaldo Rossi”. “Fiz um recorte das performances ao vivo e mais do que a música, analisei a interatividade dele com a plateia por meio de gravações oficiais ou não, participação em programas de televisão e entrevistas”.
EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS
As conversas com os convidados trouxeram um rico panorama e do que se fez, do que se faz, e do que ainda se pode fazer dentro do jornalismo musical. Se antes o que valia era a CLT e o que mantinha um produto como jornal ou revista era o anunciante, atualmente os caminhos perpassam por financiamento coletivo e apoio via redes sociais.
Rodrigo Corrêa representa a plataforma Balanço e Fúria e da editora Sob Influência. Esses meios visam interpretar as relações entre música e política no decorrer da história, atuando principalmente em duas frentes. “Tenho aprendido muito ao longo do processo. A receptividade dos convidados está muito boa e a perspectiva é levar o podcast para espaço aberto, como uma praça, por exemplo”.
O jornalista Camilo Rocha, um dos pioneiros na cobertura dos festivais e artistas de música eletrônica no Brasil, está prestes a lançar um livro. Para ele, se adaptar às novas plataformas é um desafio diário, mas a base do jornalismo, não muda. “Você busca o equilíbrio. Tem que ter aquele cuidado de não jogar muita luz sobre um movimento que está começando e também não matá-lo de início”.
GG Albuquerque, idealizador do Volume Morto, jornalista e pesquisador de Recife (PE) encerrou a noite com uma conversa franca e necessária. “A gente percebe que no jornalismo musical não conseguimos evoluir como a crítica de cinema evoluiu. A maior parte dos profissionais da área está desempregado, não tá nada bom. Eu me reinventei para fazer o que gosto”.
Outro ponto abordado por GG foi a necessidade de se questionar o que se recebe, principalmente ao lidar com pioneirismo. Com as mudanças nas formas de se comunicar, em um jornalismo comprometido com sua função, a informação, a notícia, vai com nome e sobrenome, o que não se vê nas avalanches de conteúdo patrocinado não creditado que inunda as redes. Mas essa é uma outra discussão, quem sabe para o segundo simpósio?
Em resumo, todos os convidados elogiaram a iniciativa do simpósio e a as discussões levantadas ao longo do primeiro dia ficou claro o quanto é preciso pensar e trabalhar em diferentes frentes para continuar levando informação de qualidade para um público muitas vezes reféns de conteúdos disfarçados de notícias.
PROGRAMAÇÃO DE QUINTA-FEIRA (02-02)
Os dois dias de apresentações e conversas no primeiro Simpósio de Jornalismo Cultural em Belo Horizonte foram com entrada franca. Os ingressos distribuídos via Sympla esgotaram na semana passada. E quem conseguiu garantir seu lugar verá nesta quinta-feira.
Apresentações de artigos e pesquisas:
Marcelo Santiago
Olga Costa
Conversas
Camilo Rocha / conversa com Marcelo Santiago
Chris Fuscaldo / conversa com Julianna Sá
Guilherme Lúcio / conversa com Natacha Vassou
Kamille Viola / conversa com Danielle Pinto
SEXTA TEM FESTA NO TERRAÇO DO P7
Quem não conseguiu lugar para acompanhar simpósio terá uma oportunidade de encontrar os jornalistas e pesquisadores convidados na festa de encerramento, que acontecerá na sexta-feira, no Terraço do P7, o ingresso custa R$ 40 estão disponíveis aqui.
A partir das 8 da noite acontecem shows das bandas Deafkids, Ruadois, Gabriela Viegas, DJ Akila e Ritttual (DJ set).