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Hombre Oco por Renato Torrone

Quando o que resta é o vazio

O ator Imanol Tolaretxipi no monólogo “Hombre Oco – Uma poética derrota” (Foto: Renato Torrone)

Nascido no País Basco, o ator Imanol Tolaretxipi escolheu Uberlândia como seu segundo lar e na cidade, desde 2017, integra o Grupontapé. Em 2019, durante a preparação para a estreia de “#Preciosas”, do grupo mineiro, o ator sofreu um AVC. Apesar do susto, ele se recuperou e a preparação feita pelo Grupontapé na época incluía kick-boxing na preparação dos atores e agora todo esse aprendizado foi canalizado no novo trabalho do artista.

“Hombre Oco” (Homem Vazio), que ganhou o intertítulo “Uma poética derrota” estreou na tarde desta quarta-feira (9) e tem mais três sessões, uma hoje e duas na sexta-feira (confira abaixo).

Seu personagem é um boxeador, inspirado pelo pai, o protagonista do drama familiar que inspirou Imanol e a irmã, Eli Tolaretxipi, poeta e responsável pelo texto. A história filmada em palco italiano traz todas as características do teatro, faltando o calor da plateia que dessa vez fica do outro lado de uma tela. Segundo o ator, o roteiro enfatiza a beleza poética da derrota absoluta na tentativa de demonstrar que na ruína há verdadeira poesia e que isso pode ser belo tanto estética quanto intimamente.

O pai de Imanol e Eli não era boxeador e também não foi o melhor exemplo para a família. Alguns fatos, bons e ruins, levados ao palco, partem de experiências dentro do núcleo familiar e o boxe entrou por acaso, a partir da prática do Kick-boxing.

“Enquanto eu praticava, pensava, ao mesmo tempo, que seria interessante criar um personagem que fosse um boxeador ou ex-boxeador. Lembrei de um romance curto do escritor norte-americano Jack London (1876-1916) titulado ‘Por um Bistec’ de 1909. Nunca tive contato com este esporte até agora. Por outro lado, o treinamento foi muito bom e me lembrou muito a preparação do ator principalmente na parte do aquecimento”, disse ele, em entrevista ao Uberground.

Antes de conhecer um pouco mais desse mundo, Imanol via o boxe como um esporte violento, o que mudou depois de acompanhar um pouco mais de perto. “Neste contato com o boxe e com os praticantes achei que existe nele códigos de conduta muito nobres”.

Questionado sobre um atleta que admira no boxe, um pouco mais que outras lendas do esporte, ele voltou os olhos para a própria infância e um se destacou, José Manuel Urtain (1943-1992). “Lembrei de vários outros mas durante este processo de concepção do personagem e da peça sempre tive em mente o Urtain, um boxeador que teve grande sucesso nos anos 70 na Espanha e de origem basca. A sua vida teve um final trágico. Ele morreu na mais completa ruína econômica”, comentou ele, que a partir daí fez um paralelo com outros casos pessoais e familiares.

Imanol convida a todos para assistirem a peça que acompanha este homem prestes a fazer a sua última luta e afirma que essa luta poderia ser de todos e cada um de nós. E a partir dela restam cicatrizes no corpo e na alma. Qual delas seria mais difícil de curar?

“Sem dúvida as feridas da alma. Estas se forem profundas, nunca cicatrizam. Todos temos episódios nas nossas vidas desagradáveis. Essa proposta ao ser uma coisa autobiográfica mexe com coisas acontecidas na intimidade da família e metaforicamente e poeticamente refere-se a eventos que deixam a alma irremediavelmente ferida”, conto o ator.

Sensibilidade

O Uberground conferiu a primeira sessão de “Hombre Oco” na tarde desta quarta-feira (9). Uma frase de “Anna Karenina” (1877), romance de Liev Tolstói não prepara o espectador pela trilha seguinte que descarrega adrenalina no cenário.

Nesse formato em que público fica de um lado da tela e o artista de outro, a sonoplastia e a trilha sonora ganham ainda mais relevância. E todos os cuidados foram tomados para que a atmosfera do artista chegue para quem acompanha à distância.

Imanol se veste e desveste diante das câmeras como se elas não estivessem ali. O texto original é em espanhol, e esse é o idioma da produção. Mas não precisa ter nível avançado para compreender, vale a dica mesmo para quem tem conhecimento mínimo ou nenhum da língua. Sensibilidade é a marca principal desse monólogo.

SERVIÇO

O QUÊ: “Hombre Oco -Uma poética derrota”
QUANDO: Hoje (9), segunda sessão às 19h e sexta (11) às 15h e 19h
CANAL: Imanol no YouTube
DURAÇÃO: 35min

Ficha Técnica

Elenco: Imanol Tolaretxipi | Equipe de Criação:  Imanol Tolaretxipi e convidados | Direção: Imanol Tolaretxipi e Rivian Dionisio | Trilha Sonora: Imanol Tolaretxipi, Rivian Dionisio, Welerson Filho | Texto: Eli Tolaretxipi | Concepção e iluminação: Mário Leonardo | Figurino: Imanol Tolaretxipi | Preparação Vocal: Takey Sport Academia/Grupontapé | Câmera, filmagem e edição: Renato Torrone

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