Loading…
MANUELLA KOROSSY - DIVULGAÇÃO

Primeira brasileira admitida na Juilliard School (NY), Manuela Korossy se apresenta no Teatro Municipal de Uberlândia

Uma jovem brasileira que já entrou para a história como a primeira do país a entrar na Juilliard School de Nova York (EUA), uma espécie de meca almejada por musicistas – e também dançarinos e artistas – de todo o mundo. Natural de Brasília (DF), Manuela Korossy chega a Uberlândia para se apresentar no palco do Teatro Municipal de Uberlândia, na quarta-feira (9), com o espetáculo “Da Canção À Ópera”.

A soprano que cursa canto lírico na tradicional Juilliard, fundada em 1905, preparou um repertório que passei pelas obras de compositores como Cláudio Santoro, Puccini, Verdi, entre tantos outros, em evento realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), de Uberlândia. A apresentação terá participação especial do violonista Nicolau Sulzbeck e a artista será acompanhada pelo pianista Ernane Machado

Para Manuela, que tem a voz classificada como spinto, que além de técnica é marcada pela emoção, a música erudita deve ser acessível para cada vez mais pessoas. Durante sua apresentação, ela fala sobre particularidades do canto lírico, modalidade na qual o corpo do cantor se transforma em um instrumento música.

Além do recital, ela compartilha sua experiência numa roda de conversa, aberta ao público, no Departamento de Música da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), nesta terça (8), a partir das 14h.

SERVIÇO 1

O QUE: Roda de Conversa com Manuela Korossy
QUANDO: terça (08/08)
HORÁRIO: 14h
LOCAL: Bloco 3M da UFU (Campus Santa Mônica)
ACESSO: livre

SERVIÇO 2

O QUE: recital “Da Canção à Ópera”
QUEM: Manuela Korossy
QUANDO: quarta (09/08)
HORÁRIO: 20h
LOCAL: Teatro Municipal de Uberlândia
INGRESSOS: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada) disponíveis no MegaBilheteria (com taxa de conveniência) ou na bilheteria do teatro (sem taxa de conveniência)

Entrevista

Confira a entrevista exclusiva de Manuela Korrossy para o Uberground.

UBERGROUND: Manuela, obrigada por atender o Uberground, esse site aqui de Uberlândia que propaga que não existe arte ou cultura melhor que outra, depende muito do repertório de cada pessoa e suas vivências, então, sempre trago o que vai fazer diferença pra quem ler e sua história é muito inspiradora (segundo lista da BBC)… Pra gente começar, sua proposta é mostrar que música clássica, ópera, não é somente para as elites, e o show deve deixar isso bem claro. Gostaria que você  contasse como a ópera entrou na sua vida e quando foi que percebeu o quanto sua voz era única?

MANUELA KOROSSY: Gosto de trazer a ópera como algo pertencente ao cotidiano porque foi exatamente assim que comecei meu caminho como cantora lírica. Aos 12 anos, cantei no coro infantil de uma montagem da “Carmen”, de Bizet, aqui em Brasília. Trabalhar com arte e ver a coisa acontecendo do lado de dentro do palco nos mostra uma dimensão completamente diferente da profissão; e foi fascinante ver, ainda tão nova, como a ópera é simultaneamente algo grandioso e real, fantástico e muito humano. Na ocasião desta montagem, descobri que cantar ópera era uma profissão e decidi o que queria fazer pelo resto da vida! Até agora, tem dado certo.

Você deve ter já completado 20 anos, há quase 3 está fora do Brasil. A Juilliard aparece em tantos filmes e séries como um objetivo para tantos protagonistas da ficção. Você se pega às vezes pensando que está vivendo em um filme ou algo assim?

Quando saí de casa tive bastante esta sensação! A Juilliard é uma instituição muito grande, com uma estrutura que “só se acredita vendo”! Mas, quando as demandas e a rotina extrema batem à porta, é preciso ser bem realista para manter o rendimento artístico e acadêmico sem ultrapassar meus limites. As demandas da escola são muito grandes e eu sou muito exigente com o que faço, então acho que cheguei a um meio termo razoável entre “viver o sonho” e ser realista! No final das contas, “é preciso endurecer-se, sem perder a ternura”.

Você já faz parte da história da música brasileira por ser a primeira do país a ser aceita por lá. Como encara esse ineditismo? Acredita ter abrido a porta para futuros brasileiros e brasileiras que queiram seguir o mesmo caminho que você?

Confesso que nunca fui muito tímida em explicitar minha ambição, mas por uma boa causa! Acredito sim que, quando fazemos o “impossível”, não só provamos que é possível, mas tornamos possível para mais pessoas! E não me refiro apenas a ter chegado a Juilliard, mas a almejar chegar a um nível de qualidade artística que muitas vezes nos é desacreditado… Minhas maiores inspirações artísticas são os cantores da consagrada “Era de Ouro” da ópera; pessoas como Maria Callas, Renata Tebaldi, Gabriella Tucci e tantos outros, muitas vezes colocados em um pedestal, como um nível de qualidade e originalidade artística inalcançável. Buscar inspiração nessas pessoas pode ser visto como arrogância ou mesmo loucura… mas estes grandes artistas eram pessoas comuns, extremamente dedicadas, talentosas e sem medo da própria autenticidade! Tenho muita esperança na geração de novos artistas da qual faço parte. Faremos coisas grandiosas!

A gente sabe que quem vê o flash nem sempre vê o corre. Você pode nos contar sobre os maiores desafios desta etapa da sua vida? Você precisa de disciplina e rigidez na maior parte do tempo para se manter focada?

A disciplina para cantar sempre me foi muito natural. Naturalmente demanda tempo e esforço, mas não considero um sacrifício… meu trabalho enquanto artista é parte de quem sou. Agora… o desafio financeiro, este sim é um sacrifício! A carreira em qualquer área da música clássica é bastante cara, por isso, inclusive, acaba se tornando uma arte um tanto elitista. Minha realidade acadêmica não é em nada condizente com a minha realidade financeira, então muitas vezes passo por situações de insegurança… este, com certeza, é o maior (e mais desgastante) desafio.

Além da apresentação em Uberlândia, no Municipal, você participará de uma roda de conversa com alunos de  Música da UFU, também aberta a comunidade externa. Imagino que seja um momento muito rico para quem vai participar. Mas para aqueles  – musicistas ou não  – que vão ler esta reportagem,  que mensagem você gostaria de deixar?

Devemos parar de ter medo de sair do óbvio! Gerar polarização, seja na arte ou na vida, é uma oportunidade de fomentar o debate. A evolução e o conhecimento quase sempre são um resultado do embate de ideias e posicionamentos. Ser quem somos, de forma destemida e autêntica, é abraçar nosso crescimento pessoal, mas também enriquece os ambientes e espaços que ocupamos e transformamos!

Por conta dos estudos creio que sua agenda aqui no Brasil agora seja bem concorrida. O que Uberlândia tem de especial para ter escolhido nos presentear com esse espetáculo?

Minha família é uberlandense! Tenho um carinho pessoal muito grande pela cidade, apesar de ser brasiliense de certidão e de coração. Minas é uma das regiões mais importantes para o desenvolvimento cultural e histórico brasileiro e levar minha arte para uma cidade tão rica e diversa em manifestações culturais como Uberlândia, é uma honra muito grande para mim! Espero aprender com a cidade durante minha breve estadia e compartilhar um pouco da minha paixão pela ópera!

Esse site é lido por muitos roqueiros, e a gente sabe que, principalmente a galera do heavy metal, é pautada pelo perfeccionismo, por uma boa produção… pra gente finalizar, gostaria que você destacasse alguns momentos que conheça de encontro entre o rock/metal e a música erudita.

São tantos momentos importantes!! A música erudita é um elemento fundamental para a estrutura composicional na música popular. Algumas bandas como o Pink Floyd ou o Deep Purple usam recursos de composição e instrumentação muito complexos e que “bebem” diretamente das regras de orquestração clássica. Na verdade, ainda falando do Pink Floyd, a forma que o “The Wall” foi escrito lembra bastante a estrutura de uma ópera: temas que se repetem em diferentes momentos da evolução de um personagem, a instrumentação como parte da estrutura narrativa do álbum/ história… tudo isso, vemos também nas grandes óperas! Além disso, pensando especialmente na voz e técnica vocal, o Freddie Mercury [Queen) cantou algumas vezes com a [Montserrat] Caballé (e adorava ópera), a Tarja Turunen [Nightwish] estudou canto lírico, extremamente necessário para o desenvolvimento de uma técnica crossover sólida, e talvez o mais importante: um dos recursos técnicos fundamentais para o rock; o belting, nasceu da técnica lírica!

Assista a audição de Manuela Korossy para a Juilliard (Reprodução YouTube)

Deixe um comentário