O versátil Michel Platini
Uma entrevista com o músico Michel Platini não existe sem humor. Um humor ácido, sim, mas permeado por um otimismo de quem tem alma de artista, acostumado – mas nunca conformado – com todas as dificuldades intrínsecas da profissão. Conhecido como frontman da banda de heavy metal Skyhell, há alguns anos vem se destacando também como intérprete na noite uberlandense.
A partir de 2015, começou a se apresentar com o projeto Platini E Os Platinados
, que lançou em meados deste ano o primeiro EP. Segundo ele, a proposta inicial era algo que transitasse por vários estilos, mas nada autoral. “A princípio era um laboratório musical, diferente da SkyHell que tem a linha no Rock Metal”, conta o músico, em entrevista ao “uberground”.
Platini montou a Platinados, com outros músicos, em algum momento, 75% da banda era a SkyHell. Com os experimentos, como um voltado para o rock nacional, foi trocando os integrantes.
“Ficamos por dois anos nessa onda do Pop Rock e Rock Nacional, foi uma experiência fracassada. Foi então, em 2018, que senti o desafio de criar algo novo cantado em português, que pudesse usufruir de extensões e linhas melódicas, além de letras diversificadas, algo novo mesmo. Daí ficou apenas eu na banda”, brinca.
Platini agradeceu a todos que participaram do projeto e seguiu solo, num processo de encontrar um novo conceito autoral para o projeto. “Não quis criar outro nome porque Platini e Os Platinados é bem original, então fica difícil alguém copiar”.
O PRODUTOR
As quatro músicas do EP – “Negativo ciclo sem fim”, “Toga parcial”, “Modo mente culta” e “Passa o pano” corroboram com o que Michel Platini fala sobre esse projeto. Tanto as letras quanto a sonoridade são mais ousadas.
Mas Platini, que herdou nome de craque do futebol francês, não jogou completamente sozinho. Seu parceiro nesse EP é o músico e o produtor uberlandense Rodrigo Nepomuceno, mais conhecido como Cheba.
“Ele é um gênio. Gênio! Não existe a conclusão das minhas ideias sem o Cheba. Ele é o cara que fala, ‘isso aqui não tá legal’, ‘você estragou o negócio’. Trabalhar com o Cheba e não dar liberdade pra ele fazer o que sabe é como queimar um talento. O próximo EP já está na fase de pré-produção, e é claro, Cheba quem vai produzir o rolê”, adianto Platini.
SURPRESA E FRUSTRAÇÃO
Platini não usa meias palavras em suas músicas. Também não fez um disco fácil de ouvir ou que passe de forma indiferente em qualquer playlist. Questionado sobre como sente a recepção do EP, ele apresenta dois lados.
Pelo público, na música em si, ele conta que as pessoas “se assustaram” de modo positivo. “Me disseram que nunca tinham ouvido algo parecido, então, até onde o material chegou a recepção foi maravilhosa. Mas teve uma parcela que não curtiu, e isso me agrada, porque eu realmente não quero um material que agrade a todos, quero essa linha que o SynthWave possa proporcionar e a liberdade de letra”, afirmou o músico.
Do ponto de vista do mercado, ele também não mede as palavras: “foi uma m….”. Platini conta que rádios cobraram “um absurdo” para executarem a música; os espaços que não cobram ficaram “com a pulga atrás da orelha” com medo de colocar as músicas e dar algum problema por causa das letras.
E ainda tem a pandemia, que atrapalhou a estratégia de marketing e o orçamento do E. “Faltou o videoclipe que ficou impossibilitado de ser feito, tanto pela quarentena quanto pela grana. Enquanto um artista do sertão universitário que começou ontem tem R$ 1 milhão de investimento apenas em marketing, Platini E Os Platinados teve R$ 2 mil”.
Mas não é isso que vai parar o Platini mineiro!
FORMAÇÃO
A evolução de Platini enquanto artista é percebida a partir das suas performances como intérprete. Ele passeia por diferentes estilos mantendo uma assinatura, isso, graças a uma formação musical eclética. Não é qualquer um que consegue cantar de Tetê Espíndola a Rammstein com a mesma naturalidade.
“Eu amo música, então eu escuto vários estilos, de vários países, Ocidente e Oriente. O que agradar meus ouvidos, entra pras minhas playlists. Essa liberdade me beneficia para não cair na cópia. Na parte de formação, na prática eu estou nos palcos desde 2004, então essa bagagem me trouxe 0,0001 de experiências e aprendizados. Já no meio acadêmico, mesmo eu tendo uma graduação eu decidi entrar no curso de Música, na UFU, e tenho pirado com o curso, principalmente pela bagagem erudita, que até então eu não tinha nenhum interesse. E o objetivo foi pelo conhecimento mesmo, eu quero criar mais material novo e original”.
SEM RÓTULOS
Para um cara “do metal”, será que incomoda o estigma que muito artista tem de ter que ficar sempre conectado a um só estilo, um só conceito?
Platini afirma que no ponto estético, melódico e de estilo, não, se o artista desejar aquela linha. “Já quanto às letras me incomoda, em termos de gosto pessoal, aquela linha que só fala de passarinho, cachoeira, o sol, o mar e brilho das estrelas, o amor; me incomoda”.
2021
Enquanto prepara material novo para Platini e Os Platinados, Michel também tem planos com a Skyhell. “Reativamos a banda em 2019 e lançamos o álbum ‘No Mercy’. Em 2021 completa 10 anos do nosso primeiro álbum, ‘In the name of rock”, a ideia é fazer alguma coisa para celebrar o álbum, espero que role algo doideira”, comenta Platini, 33 anos, pisciano, com ascendente em Áries… mas este assunto fica para uma próxima reportagem…