Mineirão receberá o último show do Skank em março, recorde as passagens da banda por Uberlândia
Não tem jeito. É chegada a hora de o Skank se despedir do seu público. O anúncio do fim da banda veio em 2019 e uma turnê de despedida foi planejada. E veio a pandemia. De alguma forma, esse encerramento de ciclo parece ter se arrastado por mais tempo, o que ironicamente, mais tempo proporcionou ao público para se acostumar com a ideia de que Samuel Rosa (guitarra e voz), Lelo Zanetti (baixo), Henrique Portugal (teclados) e Haroldo Ferretti (bateria) em breve já não dividirão mais o palco, como fazem desde 1991. Não como Skank.
No dia 26 de março o quarteto faz “O Último Show”. O palco será montado no estádio do Mineirão, um espaço com um valor afetivo grande para os músicos, onde filmaram grande parte do videoclipe de “Uma partida de futebol”, uma das músicas mais famosas e mais tocadas do Skank, e onde gravaram o segundo álbum ao vivo, de 2010. Ainda restam ingressos (compre online aqui), mas é bom não deixar para a última hora porque a chance desse espetáculo ser sold out é grande.
A “Turnê de Despedida” do Skank foi apresentada em Uberlândia, em 7 de maio de 2022 na Acrópole, onde 20 anos antes, em agosto de 2002, fizeram o show do primeiro álbum ao vivo, gravado na Praça Tiradentes, em Belo Horizonte, para a série de acústicos da MTV.
O repertório da derradeira tour tem sido reformulado entre um show e três horas são pouco para tanto hit. Vai ter sempre alguém indo embora falando “faltou essa, faltou aquela”, porque o Skank é sucesso, e um orgulho para os mineiros.
Durante o show no Triângulo Mineiro, Samuel Rosa tentou se lembrar quando havia sido a última vez que banda passou pela cidade – foi em 2014, na Arena Sabiazinho, com a Orquestra Sesi Minas – e se lembrou vagamente de uma apresentação naquele mesmo palco da Acrópole, que na época ainda não era Boulevard.
Para o público, apreciar a qualidade da banda desfilando sucessos dos nove álbuns naquele momento tinha um sabor agridoce. Afinal, por mais que tenham dito que uma reunião não está descartada, sabemos que o grande espetáculo desse quarteto já tem data para o último ato.
Músicas como “Pacato Cidadão” e “Esmola”, de “Calango” (1994) mostram o quanto o Brasil ainda se repete quando o assunto são piores momentos. Os versos continuam a fazer sentido quase 30 anos depois de escritos.
Skank também é pra dançar, como em “Uma Partida de Futebol”, “Jackie Tequila”, “Mandrake e os Cubanos” (que não foi tocada no último show em Uberlândia). Skank também é pra tirar do peito dor de amor que não passa com versos de “Sutilmente” e “Resposta”.
A família Skank da estrada precisará encontrar novos caminhos. No show da despedida em Uberlândia a repórter reconheceu um rosto nos bastidores. “Há quanto tempo você trabalha com a banda?”, “Vixe, faz tempo”, respondeu o ex-roadie que desmontou quase sozinho o palco de 1996 e agora lidera uma equipe.
Lelo, Samuel, Haroldo e Henrique contaram com músicos que os acompanham a longa data, trazendo os metais para enriquecer as músicas. O vocalista desceu do palco não uma, mas duas vezes. Cantou junto do público, agradeceu, assinou uma blusa do Cruzeiro. Fez até coraçãozinho com as mãos em determinado momento do show.
Olhares carinhosos para a plateia vinham de todos. É como se quisessem guardar para si, cada pedacinho da noite. Afinal, um show só acontece quando há cumplicidade dos dois lados.
Minas Gerais, que deu ao mundo o Clube da Esquina, também será lembrado como o estado que deu ao mundo o Skank. Em novembro de 2014, no Circuito Banco de Brasil, no Campo de Marte, em São Paulo, a banda se apresentava diante de um público ávido por Kings of Leon, Paramore e Pitty. E com simpatia e competência o Skank conseguiu – mesmo debaixo de chuva – roubar a cena e um mar de gente cantava, junto com Samuel Rosa e companhia. E é por essas e por outras que o Skank para, mas a música fica.
Memória
Muita coisa mudou entre o primeiro e último show do Skank assistido por esta jornalista. Em 1996 usei um “rolo de 36 poses” para registros no UTC, em uma câmera Yashika amadora. Era estudante do segundo grau pensando em cursar jornalismo. Vi a transição para o digital, fotografei o Skank com uma câmera Sony que utilizava disquetes, até a mais recente turnê com a câmera profissional digital que permite transmissão via wi-fi para o celular. Das 36 poses, metade prestou. Das mais de 300 digitais aproveitei 60.
Há 26 anos não havia smartphones na plateia, e selfie ainda era só autorretrato. As pessoas ainda iam às lojas de discos em busca de DVDs, o rádio ainda ditava o que era sucesso e parecia que aproveitávamos mais os instantes. Para a alegria de todos, as plataformas digitais hoje te entregam toda a discografia do Skank em segundos, a um click de distância. Você poderá ver vídeos no YouTube, no Insta, ou mesmo gravar os seus – por mais que não vá assisti-los depois.
São três décadas de história para um time em que nunca se mexeu. A mesma formação. Para o público, parecia que, até os mais recentes shows, se divertiam trabalhando juntos.
Em 2002 e 2006 tive a oportunidade de fazer boas entrevistas com a banda. A de 2006 teve como foco o recém-lançado “Carrossel”. A reportagem foi publicada no jornal Correio de Uberlândia, que encerrou as atividades em 2016 e tirou todo seu conteúdo do ar. Republiquei aqui e recomendo a leitura. Que me desculpem os entusiastas do metaverso, pensando além do analógico x digital x virtual, uma coisa é certa: nada substitui o que um show ao vivo pode fazer pela sua vida.
As passagens do Skank por Uberlândia
- Dezembro/1996 – UTC – Turnê de “O Samba Poconé”
- Agosto/2002 – Acrópole – Turnê de “Skank – MTV Ao Vivo”
- Agosto/2007 – Estádio do Parque do Sabiá – Triângulo Music
- Outubro/2011 – Parque de Exposições do Camaru – Triângulo Music
- Abril/2014 – Arena Sabiazinho – Turnê com Orquestra Sesi Minas
- Maio/2022 – Acrópole – Turnê de Despedida