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Juliana Iyafemí por Clareana Graebner

Juliana Iyafemí: O coração é mineiro, o corpo é do mundo

Nascida em Araguari, graduada na UFU, Juliana Iyafemí estreia espetáculo solo de dança com trilha criada exclusivamente para ela por Moreno Veloso (Clareana Graebner/Divulgação)

O corpo fala. De muitas formas. A dançarina e atriz mineira Juliana Iyafemí tem dialogado consigo mesma e com um vasto público Brasil afora há 15 anos. Esse debute merecia algo marcante e terá. Não como ela previa, em um teatro lotado ou circulando por pontos de cultura de Norte a Sul do Brasil. Acontecerá de forma virtual no dia 6 de fevereiro e, olhando o lado bom das coisas, “Qual é o seu nome?”, seu espetáculo solo com trilha de Moreno Veloso poderá ser assistido em qualquer lugar do mundo com acesso à internet.

“A expectativa é grande porque é um formato diferente, precisamos que tudo funcione tecnicamente. Estamos fazendo os testes com a plataforma de transmissão,  mas, você sabe, máquinas são máquinas. Se acontece algo errado no palco a gente improvisa, mas se a conexão falha isso não existe. Por isso trabalhamos com plano A e plano B, mas creio que tudo correrá bem”, afirmou a dançarina em entrevista por telefone ao Uberground em um intervalo dos ensaios.

Além da pesquisa, coreografia e produção, Juliana também tem assistido a outras apresentações artísticas neste formato que permite ao artista sobreviver em tempos de distanciamento social. “Temos que estar dispostos e abertos a essa possibilidade, nós e o público porque acaba sendo uma nova forma de ser espectador”.

Juliana está em Natal (RN). Opta por dizer que não tem um endereço fixo, faz parte da sua profissão viajar para se inspirar e produzir. Mas o coração mineiro bate forte. Natural de Araguari (MG), graduada em Teatro pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), participou de vários projetos na região do Triângulo Mineiro atuando com dança, teatro e produção cultural. “Onde eu estiver, Minas estará comigo”. E a próxima parada será a Bahia.

Juliana já se apresentou na Itália, Espanha, Peru, Uruguai, Suíça e Alemanha, em apresentações de dança, teatro e outra arte que faz parte da sua vida: capoeira Angola. E suas produções sempre reforçam a força da cultura afro enraizada na sociedade. “Em todos esses países fiz uma apresentação livre. Por onde vou levo meu, corpo que é minha casa e meu trabalho”.

Em “Qual é o seu nome?”, Juliana leva par a o palco a narrativa de sua iniciação na religião do candomblé, uma forma de juntar o erudito e o popular em elucidações acerca da cultura afro-brasileira e suas rodas de samba, capoeira e danças inspiradas nos movimentos dos orixás. Os elementos presentes na natureza e no terreiro – água, fogo, ar, terra, mato – a acompanham na performance.

A proposta é levar o espectador a pensar no que o move a fazer coisas novas todos os dias.

SERVIÇO

O QUE: Espetáculo de dança “Qual é o seu nome?”
QUANDO: 6 e 20 de fevereiro e 06 e 15 de março
HORÁRIO: 20h
DURAÇÃO: 20 min
INGRESSOS: R$ 35, à venda pelo Sympla
PLATAFORMA: Zoom

A música

Foi a arte que aproximou a dançarina mineira e o cantor, compositor e multi-instrumentista Moreno Veloso, o filho mais velho de Caetano, responsável pela trilha do espetáculo “Qual o seu nome?”. Para Juliana Iyafemí é um privilégio trabalhar junto com alguém tão talentoso que além da arte tem em comum com ela a prática do candomblé.

“Eu já conheço o Moreno há algum tempo e decidimos fazer esse trabalho juntos. Ele compôs a trilha exclusiva e durante o processo com o qual ele sentiu uma conexão, se inspirou e escreveu a música que dá nome ao espetáculo. É uma composição bem linda e a trilha também está fantástica porque ele é um compositor maravilhoso”, elogia a dançarina.

Além de Veloso na trilha, a produção conta com a diretora Vera Passos, professora, bailarina e coreógrafa e uma das difusoras da Técnica Silvestre de dança, juntamente com a idealizadora Rosângela Silvestre.

A dança

Juliana durante ensaio para a estreia no dia 6 de fevereiro (Clareana Graebner/Divulgação)

A dança entrou na vida de Juliana Iyafemí muito cedo, ainda na infância, e foi a dança que a levou a fazer o curso de Teatro. Hoje, a filha, Iúna, de 4 anos, segue os mesmos passos, e até já participou de uma performance com a mãe. Assim como outros artistas em todo o Brasil, Juliana contou com incentivo da lei emergencial Aldir Blanc e também foi contemplada em editais de fomento como Arte como Respiro, do Itaú Cultural.

“Quando saiu o resultado eu fraturei um dedo do pé. Quase me desesperei. Mas a dança não é só o movimento, é o pensar a dança. E como estava em quarentena desenvolvi um projeto no formato videodança chamado ‘Entre si’ junto com a Iúna. Estudei os movimentos, me inspirei em um estilo de dança japonês chamado Butô, no qual só se mexe a parte superior do corpo. Afinal, a dança se enquadra em qualquer corpo, em qualquer situação. Ficou lindo e foi lindo ter a Iuna comigo mostrando ali como é ser artista e mãe na quarentena”.

A jornalista pergunta o significado de Iúna. “Além de ser o nome de um pássaro, Iúna também é o nome de um som que sai do berimbau, que usamos na capoeira Angola, uma luta disfarçada de dança que é patrimônio imaterial do Brasil. Eu sou da capoeira, então, não tinha como sair disso e também gostamos de sua origem em tupi-guarani, que significa Rio Profundo”.

FICHA TÉCNICA

Qual é o seu nome?

Composição e performance: Juliana iYafemí (MG/RN) | Orientação: Vera passos (BA) | Trilha sonora: Moreno Veloso (BA/RJ) | Figurino: Mamba Negra (RN) | Costureira: Maria de Lourdes Quirino (RN) | Contra-regra, operação de som, operação projeção e iluminação: Giovanna Araújo (RN) | Espaço de ensaio: Tecessol (RN) | Vozes iniciais: Dofona de Oxóssi e gamotinho de omolu (ilê axé afinka – macaíba/RN) | Arte e montagem projeção: Fernando Franco (PB) | Produção: Grupo de Artes Comboio (MG)

Confira o teaser do espetáculo

Teaser do espetáculo “Qual é o seu nome?”

“Entenobrecida”

Juliana Yyafemí protagonizou recentemente o curta “Entenebrecida”, que marca a elucidação de sua negritude num constante despertar. Elucida inclusive o quanto ainda precisamos de trabalhos que conscientizem sobre a tolerância religiosa, igualdade de gênero, classe e cor.

É uma parceria com o diretor mineiro, radicado no Rio de Janeiro, Rafael Bacelar. Para Juliana, é uma experiência teatral sobre a carne. O curta está concorrendo em alguns editais internacionais, por isso não pode ser disponibilizado, por enquanto, para o público. “É uma produção simples, singela, sem muitas elocubrações ou edições. É um trabalho real, pé no chão e espero, com essa forma rica, reflexiva e não caricata, trazer prêmios para o Brasil”, afirma Juliana, que optou pela dramaturgia em coral na obra.

Você pode conhecer mais do trabalho da artista em seu canal no YouTube ou pelo Instagram.

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