Helena Manzan e os portais entre o tempo e a arte que marcam suas novas propostas
Helena Manzan desce apressada de um carro de aplicativo, desculpando-se pelo atraso no início da entrevista. A artista plástica mineira, radicada na Itália há mais de 20 anos, abre o portão do condomínio que leva o nome do pai dela, Luiz Manzan. Ali fica o seu apartamento/ateliê, seu lar em Uberlândia. Na alça da bolsa tiracolo, manchas de tinta amarela denunciam a rotina criativa.
Enquanto sobe os lances de escada, ela se desculpa (sem necessidade) por não ter preparado melhor o espaço para receber a repórter. Ao cruzar a porta do apartamento, o mundo muda: dos tons pastéis do trajeto desde o portão principal, somos transportados para um universo repleto de cores e formas. Sobre a mesa, tubos de tinta, pincéis e uma máquina de costura portátil dividem espaço com sementes de sibipiruna que integrarão as novas obras. Essas criações ganharão iluminação em LED para realçar as cores e o impacto visual.
Portas, aliás, têm conexão direta com a mais recente mostra da artista, em cartaz desde o final de outubro no Palazzo San Francesco Comune di Agnone, um antigo convento na Itália. Intitulada “Espaço e Tempo”, a exposição apresenta módulos de arte de 1×2,10m, com curadoria de Carmen D´Antonino. Helena viajou para o Brasil também com 20 litografias autenticadas, publicadas por uma editora de Molise (ITA).
“Ela retrata o espaço onde vivo, o Castel San Vicenzo, na província de Isérnia. São 11 obras instaladas em portas que o público não pode atravessar. As obras são como portais que se abrem para tantas coisas por meio da minha arte — ou portas interiores que se abrem dentro de nós. A interpretação é livre”, explica a artista.
Helena revela que essa série surgiu após um período de introspecção e restauro interior nos últimos anos, um processo que ela já havia abordado em entrevista ao Uberground em 2021.
Em “Espaço e Tempo”, os portais carregados de religiosidade ganham vida com matéria orgânica, marca registrada da artista: palhas, terra, pigmentos e sedas italianas. No ateliê de Uberlândia, uma nova série está em desenvolvimento, onde a transparência desempenha papel central.
“Estou buscando algo no Brasil, algo das minhas origens, que aqui substitua a seda italiana. Essas transparências começaram na época das minhas pesquisas no Araguaia, em 2011, com materiais simples usados por pesquisadores da região. Agora, retomo um pouco dessa fase para tornar a invisibilidade visível”, comenta.
Uma relação única com o tempo
Na mostra do Palazzo San Francesco, tudo carrega um novo significado: flores recolhidas em caminhadas, botões de rosa, um cadeado esquecido. Rosa, aliás, é um elemento presente em todas as novas obras, ao lado de ampulhetas que enfatizam o domínio do tempo sobre tudo.
A relação de Helena com o tempo é sem pressa. Em seus novos quadros, o uso de papel crepom evoca memórias escolares, mesclando nostalgia com um olhar litúrgico assumido.
“Esse é o meu jeito de enxergar agora. Acho que o mundo precisa disso. Sigo minha identidade, mas sempre agregando algo contemporâneo”, reflete. Ela também recorda o primeiro quadro assinado por uma mulher que viu em uma festa de Folia de Reis, cuja autoria ainda desperta sua curiosidade: “O nome era Laila. Meus pais não sabiam quem era, e eu tinha tantas perguntas… Ainda tenho.”
Arte e vida entrelaçadas
Helena Manzan adora caminhar pelas ruas de Uberlândia, conversar com pessoas, andar de ônibus e explorar o comércio local e pequeno entre o bairro Fundinho e o Centro Municipal de Cultura. “Eu me sinto tão querida. Gosto de sentir o ser humano real, o cidadão simples. Eles têm uma energia que me alimenta por um ano, até o próximo retorno ao Brasil”, diz.
A artista, que deixou Tupaciguara ainda pequena e depois Uberlândia aos 38 anos, viveu, e ainda vive na Itália experiências marcantes. Sempre em busca de aprendizado, trabalhou em galerias de arte e mergulhou em áreas como psicologia do desenho. Para ela, criar é uma necessidade vital. “Minha bagunça organizada é como eu me alinho comigo mesma.”
Sensibilidade, técnica, criatividade e leveza é o que reflete as obras de Maria Helana Manzan!!!Possuo 07 obras desta artista e sua essência está impregnada em cada uma delas..Se o numero 7 é perfeição, somos abençoados!!!