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Elza Soares em foto de Daryan Dornelles

Editorial – Elza Soares: A entrevista que eu eu não fiz

Elza Soares em setembro de 2018 no Festival Timbre, em Uberlândia (Foto: Dyogo Póvoa)

No dia 15 de setembro 2018 Elza Soares estava em Uberlândia para se apresentar na 5ª edição do festival Timbre. A assessoria do evento, juntamente com a da artista, me ligou para falar da possibilidade de uma entrevista com a artista, antes da apresentação, no Teatro Municipal da Cidade.

Quando Elza lançou “A Mulher do Fim do Mundo” (Circus), três anos antes, voltou com tudo ao cenário musical nacional depois de oito anos sem material inédito. E o Brasil novamente se rende a seu talento. Os sucessores de “A Mulher do Fim do Mundo”, “Deus é Mulher” e “Planeta Fome”, ambos lançados pela Deckdisc, a apresentam em sua melhor forma, com grandes parcerias e uma conexão com o presente que em nada comprometeu sua essência.

Em 2021 ela estaria novamente no Timbre, em edição online desta vez. No dia 20 de janeiro, quando noticiada sua morte, aos 91 anos, em casa, de forma natural e tranquila, voltei àquele 15 de setembro de 20218.

Justifiquei a questão de estar sozinha com filho pequeno em casa e trabalhando em um projeto para tentar entrar no mestrado. Mas eu conseguiria alguém para ficar com meu filho… e creio que teria entrado no mestrado mesmo com cinco horas a menos de dedicação ao projeto que hoje é este site, o Uberground.

Mas o real motivo eu não diria na época. Eu havia entrado numa depressão que mal me permitia sair de casa. Entrei na rotina casa-trabalho e não conseguia conversar com as pessoas.

Ao olhar para trás, hoje, percebo que não só perdi a oportunidade de estar diante de uma das maiores artistas que esses país já teve, como também perdia a chance de seguir o seu exemplo. Ela, que caiu tantas vezes, com certeza teria me contado coisas que além de compartilhar com meus leitores me ajudariam a levantar. Perdi a chance de transformar um momento ruim em uma das melhores reportagens que poderia escrever.

Mas para nós, mulheres, é difícil reconhecer fraqueza porque o mundo julga o tempo todo. Existe uma palavra que, principalmente os homens, gostam de usar quando demonstramos vulnerabilidade: vitimização.

Elza passou por tanta coisa e perto de tudo que ela viveu e tudo que ela criou, era o exemplo que eu precisava seguir. Traição, abandono, mentiras, ingratidão, indiferença… tudo isso ela conheceu bem e transformou em arte. Cantou suas dores superou tudo, menos, a morte de quatro dos seus filhos, que chamava de “feridas abertas”.

Desculpa, Elza, deveria saber que não se recusa o convite desses e deveria ter entendido que o universo havia te mandado para tirar do lugar de onde eu estava. Imagino que se essa conversa tivesse acontecido eu não precisaria de terapia. Seguimos aqui à sombra do seu legado, sua música, seu sorriso, sua extravagância! Te parafraseando, levamos você conosco, por nos ter dado seu próprio ser.

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