As 5 Marias e as luta pelas infâncias silenciadas
O saber se aprende com os mestres. A sabedoria, só com o corriqueiro da vida.
Cora Coralina
As palavras, os contos, as poesias de Cora Coralina (1889-1985) se fazem presentes quase quarenta anos depois de sua morte. A poetisa e contista brasileira, nascida na Cidade de Goiás, segue inspirando os amantes de um bom texto.
Para celebrar a vida e a obra de Cora Coralina, o coletivo 5 Marias, de Uberlândia, realiza hoje (20) o “Noite do Amanhã”, evento para marcar a data de nascimento da poetisa em 1889. Não tem que fazer reserva, não precisa estar conectado. Vai ser assim: cada um na sua casa, de preferência, desconectados dos eletrônicos.
Na última segunda-feira (16), o coletivo, formado por cinco mulheres educadoras, promoveu a live “Escutas de Cora” (disponível aqui), com Juliana Schroden, doutora em estudos literários e mestre em teoria literária pela UFU, já havia estudado a obra de Cora por questões acadêmicas. Parte do doutorado foi realizado em Sorbonne, França. A pesquisadora conversou com o Uberground e vocês podem conferir a entrevista aqui.
AS 5 MARIAS: UM FRUTO DA PANDEMIA
Elas sao Luciana Ribeiro, Carolina Melo, Patrícia de Paulo, Cristhiane Pegorari e Fernanda Bevilaqua. Mas na rede social online Instagram você as encontra como As 5 Marias, o coletivo que promove hoje a “Noite do Amanhã”, em homenagem a Cora Coralina.
Segundo Fernanda Bevilaqua, o projeto é um movimento coletivo que chega para estimular a leitura em família, em casa, seja que hora for, de que forma for… pode ser na hora de dormir ou no café da tarde, no despertar ou em um momento de insônia na madrugada. A data escolhida para essa convocação foi 20 de agosto, marcada pelo nascimento de Cora Coralina.
Luciana nos conta que o coletivo é um fruto da pandemia. Essas cinco mulheres, que representam cinco diferentes instituições de Uberlândia e Patos de Minas, estavam indiretamente conectadas por alguns trabalhos paralelos. “A válvula propulsora para o coletivo foi a vontade de fazer mais pelas infâncias, que na minha opinião, foram muito silenciadas na pandemia. Com as escolas fechadas por tanto tempo, o fato de as pessoas não estarem considerando mecanismos sociais e culturais que favorecessem as infâncias nesse tempo nos preocupa”, comentou Luciana.
Já faz algum tempo que Luciana aborda a cultura da defesa da infância no seu trabalho. Ela explica que o desenvolvimento infantil pode estar diretamente impactado pelo isolamento, um impacto diferente do que tem na vida dos adultos. “Esse tempo cronológico de um ou dois anos para uma criança muito pequena é extremamente significativo. Se for considerar a primeira infância, que vai até os 7 anos de idade, dois anos pode ser um terço ou mais da vida delas.
O nome do coletivo veio, por serem cinco mulheres e também pela brincadeira das pedrinhas, 5 marias, que resgata as brincadeiras da infância nos quintais, mais livre, natural, sem tecnologia.
A “Noite do Amanhã” é uma das atividades do coletivo. O amanhã aparece no nome do projeto na metáfora da mudança do futuro. Todo o grupo é inspirado pelo sistema educacional Reggio Emilia, idealizado pelo pedagogo Loris Malaguzzi (1929-1994), na Itália, após a Segunda Guerra Mundial. A proposta é deixar a criança ser a protagonista na construção do seu conhecimento.
Luciana tem formação nesse sistema no qual segue em aprimoramento contínuo. Ela conta que o movimento ensina sobre a metáfora das cem, baseada no poema “As cem linguagens das crianças”, que diz: “as crianças são sempre cem e roubaram-lhes noventa e nove”.
“Trabalhar com metáforas provocativas é um dos propósitos das 5 Marias, iluminadas por essa abordagem que nos inspira, das escolas italianas de Reggio Emilia, já difundida por vários países, inclusive no Brasil. Pensar no “Noite do Amanhã” e pensar que noites singelas como as de hoje podem modificar o futuro”, comenta Luciana.
Ela percebe que as iniciativas da infância com relação à literatura são muito tímidas e engessadas, como boa parte de outras atividades voltadas para as crianças. “Atividades diversificadas como a desta noite são importantes. Na nossa história seguimos contando histórias dos clássicos, mas queremos ir além disso, formar leitores mais críticos e culturalmente favorecidos, participantes e sujeitos de nossa cultura e nossa sociedade. Essa é a hora”.
O coletivo observa as feiras do livro, com muita oferta e pouca ação para incentivar as crianças, também as escolas que mandam um livro na sexta-feira para ser lido no final de semana, mas, assim como qualquer aprendizagem, a leitura tem que passar pelo campo afetivo. “Hoje em dia nem tanto, mas há famílias que colocam a literatura como um castigo para as crianças. Estratégias de fora pra dentro não fazem tanto sentido, tem que ser o oposto e nada melhor para a criança ouvir isso da voz dos seus pais. Elas precisam de coisas simples mas criativas, atrativas e belas.
Está lançado o desafio hoje, e toda noite de 20 de agosto. Leia para as crianças em um ambiente singelo, mas marcado por afeto e comece a fazer a diferença. Você pode registrar o momento e enviar para o coletivo 5 Marias no Instagram e compartilhar a sua experiência além de aprender com outras.
Bom dia. Maravilhoso trabalho. Vocês têm um canal para que possamos conversar?
Ana, pode entrar em contato com elas pelo Instagram, o link está no texto. Beijo!
Parabéns pela iniciativa, a infância merece e agradece.
As Marias agradecem… e eu tb!