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Malu Rodrigues e Cláudio Botelho por Leo Aversa

Cláudio Botelho e Malu Rodrigues presenteiam o público com clássicos da obra de Cole Porter

O nome do músico e compositor norte-americano Cole Porter (1891-1964) pode ser seguido de inúmeros adjetivos. De brilhante e genial a mentiroso. Responsável pela era de ouro dos musicais norte-americanos, tem músicas que sobrevivem ao tempo, à rapidez com que muitos vão de ícones a esquecidos em menos de uma estação.

Seja você um apreciador da obra do autor de canções como “Night and Day”, “I Get a Kick Out of You” e “I’ve Got You Under My Skin”; seja você uma pessoa alheia a esse mundo, mas curiosa para conhecer algo novo e bom, então “Cole Porter & Os Grandes Musicais” é para você. Pecado seria não ver.

Estrelado por Cláudio Botelho e Malu Rodrigues, o musical tem sua segunda e última sessão em Uberlândia na noites deste sábado (26), no Teatro Municipal. A sessão da sexta-feira foi primorosa. Acompanhados pelo pianista Márcio Castro, Botelho e Malu são o retrato da entrega no palco, mesmo a sessão não tendo o público que merecia naquela noite.

Entre solos de um e outro, alguns duetos e muitas histórias, sobre Cole, sobre Cláudio, sobre Malu. O que têm em comum? O fato de terem sido tocados, moldados, embriagados pela arte do teatro musical. Técnica impecável, muito importante, mas o fator humano, a emoção, a entrega é o que fazem a diferença. Em determinado momento do espetáculo Botelho comenta como se sente um cara de sorte por conseguir viver dessa arte há cerca de 40 anos.

E sorte de quem pode assistir, contemplar e se emocionar com essa entrega no palco. Pode ser a sua história, a história de um amigo ou amiga, um pouquinho de você que aparecerá entre um ato e outro. Se você pode, dê-se esse presente e assista. Mas tenha cuidado: alto risco de lágrimas compulsivas surgirem nos solos de Malu.

Malu Rodrigues em “Cole Porter & Os Grandes Musicais”, no Teatro Municipal de Uberlândia (Adreana Oliveira)

Deixe Cláudio Botelho de contar porque Cole Porter foi um talento ímpar no mundo dos musicais e também porque era mentiroso. Além de canções originais, versões brasileiras são apresentadas. Malu disse gostar muito de cantá-las e Botelho vai te contar um pouco sobre o desafio que é escrever essas músicas. No bloco de cinema você saberá sobre quão exigentes são os produtores originais de “Os Miseráveis”, que Cláudio Botelho e seu companheiro de jornada Charles Möeler também trouxeram para os palcos brasileiros.

É uma viagem sem sair da poltrona que apesar de mostrar um pouco da obra de um compositor não tão popular no Brasil, é acessível para quem tem mente e cabeça aberta para se permitir viver a experiência de um musical de nível internacional, com tempero mineiro.

De Araguari para o mundo, Cláudio Botelho canta pela primeira vez no Teatro Municipal de Uberlândia (Adreana Oliveira)

SERVIÇO

O QUE: Musical “Cole Porter & Os Grandes Musicais”
QUEM: Cláudio Botelho, Malu Rodrigues e Márcio Castro
ONDE: Teatro Municipal de Uberlândia
QUANDO: Hoje (26)
HORÁRIO: 20h
DURAÇÃO: 70min
CLASSIFICAÇÃO: 12 anos
INGRESSOS: à venda pelo site MegaBilheteria (com taxa de conveniência) e nas bilheterias do teatro

SETORES
Plateia: R$ 50 (meia-entrada e cliente Algar Telecom) e R$ 100 (inteira) Meia R$ 50,00 R$ 9,00
Setor Lateral: R$ 40 (meia-entrada e cliente Algar Telecom) e R$ 80,00 (inteira)

Malu Rodrigues estará na primeira série musical da Globoplay

Sexta-feira, 25 de novembro de 2022. Teatro Municipal de Uberlândia. Pouco depois do meio-dia. A repórter é direcionada para o palco que recebia os últimos ajustes para receber, naquela noite, a primeira de duas sessões do espetáculo musical “Cole Porter & Os Grandes Musicais”. Para quem trabalha do outro lado é intimidador estar naquele lugar porque, verdade seja dita, o palco não é para todos.

Carlos Guimarães Coelho, Nilson Raman, Márcio Castro, Cláudio Botelho e Malu Rodrigues (Adreana Oliveira)

A poucos metros da jornalistas os verdadeiros donos daquele espaço. O cantor, ator, roteirista e tradutor Cláudio Botelho, a atriz e cantora Malu Rodrigues, o pianista Márcio Castro e o produtor e iluminador do musical, Nilson Raman. Nos bastidores, a equipe técnica e os produtores locais, do Uberlândia na Rota do Teatro, trabalham intensamente.

Depois de atender a duas TVs, chegou a hora de ator e atriz conversarem com o Uberground. Enquanto aguardava, a repórter observou Botelho conversando com os colegas. “Cheguei na cidade na quarta-feira e parece que estou aqui há quatro meses. Aconteceu tanta coisa”.

Vai ver são os ares das Minas Gerais. Radicado no Rio de janeiro, natural de Araguari, Botelho é um dos grandes responsáveis pela história dos musicais no Brasil, junto com Charles Möeller. E não me perguntem por quê, ele, tendo inaugurado teatros em tantas cidades brasileiras, se apresentaria naquela noite pela primeira vez no palco do Municipal de Uberlândia, a cidade vizinha à sua, onde viveu durante alguns anos. Antes de descobrir o mundo do teatro.

Ainda colhendo os frutos do sucesso na novela “Pantanal” (Globo), na qual interpretou Irma na primeira fase, Malu Rodrigues nem de longe parece uma estrela inacessível e muito menos deslumbrada com a fama que vem junto com telenovelas brasileiras exibidas em horário nobre. Serenidade parece ser uma característica da atriz, uma pessoa feliz, amada, que teve e tem momentos difíceis, mas também tem com quem contar:

Eu sou a típica atriz mirim, comecei a trabalhar muito cedo e tenho uma família que sempre me apoiou e me ama. Fui criada pelo meu pai e minha avó. Minha mãe sempre morou no interior e também sempre foi presente. Convivi com muita gente que começou com a minha idade que não é uma pessoa legal. O amor, a educação que minha família me deram fez toda a diferença na minha. É um meio difícil. Tem suas regalias, tem sua magia, o deslumbre e temos que lidar muito com a questão do ego. Minha família nunca me pressionou para seguir a profissão e eu estudo bastante, além de conseguir manter minha vida pessoal separada das redes sociais por exemplo. Quando o ator não está trabalhando é porque está desempregado, não sei se consideraria férias. Então essas folgas eu pego para me aperfeiçoar, por exemplo, nas minhas próximas ‘férias’ vou torrar toda grana que tenho estudando inglês em Nova York.

E em breve ela, que também tem experiência no cinema, voltará às telinhas em breve. Ela está na primeira série musical do Globoplay que pode ter um derivado para o canal Gloob e possivelmente também chegará À TV aberta. O inglês em NY é uma necessidade que ela sente da mesma forma que se preocupa com o corpo não pela vaidade apenas. “Eu faço aula de canto até hoje. Continuo malhando porque musical não é fácil, geralmente são 3 horas em cena. Eu me preocupo muito com minha saúde para estar inteira no palco”.

Para Botelho, desafio dos musicais no Brasil é fugir da repetição

Para tornar uma longa história curta, quando foi para o Rio de Janeiro, entrando na juventude, o araguarino Cláudio Botelho foi ao teatro. E ali foi capturado para sempre. E é ai que ele está até hoje! Revisitando a obra de Cole Porter depois de quase 20 anos da primeira montagem que fez só com músicas ele, Botelho está em casa:

Cole Porter é muito importante na minha vida e do Charles [Möeller]. Em 1999 a gente fez um musical só com músicas dele que colocou a gente no mapa. Depois fizemos ‘Kiss me, Kate’, a primeira montagem inteira de Cole Porter no Brasil. Será que ele me persegue? Não! Eu o persigo porque sempre que é possível voltar a Cole Porter eu volto. As pessoas mal conseguem dizer o nome dele no Brasil mas nós conseguimos tornar Cole Porter um compositor popular no Rio de Janeiro. As pessoas vão ao teatro para ver o que está relacionado a ele, um compositor sofisticado, distante do nosso mundo, mas quando você canta ‘Night and Day’, ‘Begin the beguine” as pessoas cantarolam junto e isso é o mais gratificante.

Para Botelho, a arte é o esteio que faz tudo valer a pena e para ele, o cenário artístico brasileiro já está no nível da Broadway e o desafio maior para esse segmento dos musicais é não se tornar mero replicador:

Essa fase que começa nos anos 2000, a distância entre nós e esse tipo de espetáculo, nem vou dizer Broadway, a distância seria como de nós para os Fenícios ou de nós para o período das Cruzadas, nós não tínhamos nada a ver com aquilo. Hoje somos o terceiro maior mercado no mundo de grandes musicais. A gente já é parecido com aquilo. Temos material humano, temos material de criação, na minha opinião, nós não temos ainda algo fundamental nesse estilo que ainda vai levar um tempo, nós não temos compositores.

Botelho explica que a Broadway existe como um jeito de fazer teatro, mas basicamente é um lugar que criou um homem chamado Cole Porter. “‘A Noviça Rebelde’ não teria existido se dois caras não tivessem se juntado para escrever aquela música. Isso nós não temos aqui, mas virá com o tempo. Eu não estarei mais aqui. Não sei se o Brasil vai por esse lado. A todo momento tudo muda. Precisamos afinar um pouco o caminho para não sermos um mero repetidor de espetáculos’.

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