Autora fala sobre e-book que registra Encontro de Graffiti em Uberlândia
Débora Costa Nunes se descreve como mulher negra, periférica e professora. Agora pode adicionar escritora também. E foi na periferia de Uberlândia, a partir de 2019, que ela começou a registrar o impacto do graffiti pelas ruas onde morava e por onde passava.
Desse interesse surgiu o e-book “GER – Graffiti Escola na Rua”, lançado pela editora LiteraRua que tem entre seu quadro de escritores publicados nomes como Emicida e Djamila Ribeiro. Segundo a autora, com o esse livro a proposta é tornar público o potencial latente de produção cultural da periferia e visibilizar seus agentes.
Débora conta que “GER – Graffiti Escola na Rua” foi concebido a partir da ótica de valorização dos grafiteiros de Uberlândia, nascidos aqui ou não. “Muito além da ideia de ter um ‘catálogo’ de fotos deste ou aquele artista – embora o evento tenha contado com a participação de grandes nomes nessa vertente das artes visuais – a ideia é documentar e difundir para a sociedade conhecimentos sobre práticas artísticas e movimentação do eixo cultural da cidade por meio de ações independentes”, disse ela, em entrevista ao Uberground.
O evento ao qual ela se refere, que é retratado no livro, ocorreu em formato de mutirão no bairro Planalto, que ganhou uma galeria de arte a céu aberto. No mesmo dia, outras ações e manifestações artísticas diferentes aconteceram no encontro. Teve capoeira, batalha de MC´s, campeonato de basquete de rua, trabalho de trancistas negras.
“Tivemos de tudo um pouco e sem nenhum tipo de suporte financeiro das instituições de fomento, os grafiteiros proporcionaram um final de semana repleto de cultura e possibilidades. Através do Encontro de Graffiti documentado, podemos pensar as diversas formas e fontes de saberes, construir memórias significativas e plurais sobre nossa cidade”, comentou a pedagoga.
Para Débora, “Escola na Rua” é evidência de que, como posto pelo educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997), “Não há saber mais ou saber menos, há saberes diferentes”.
Pergunto o que ela destaca, enquanto pedagoga, como fundamental na hora de os professores trabalharem arte urbana em sala de aula e se ela acredita que atualmente o graffiti tem sido mais aceito como arte.
Débora aponta que, primeiro, é essencial que os professores sejam mediadores de conhecimento e não transmissores de informações e achismos. “Arte urbana ou street art, é um termo amplo que engloba produções com stencil, lambe-lambe, pinturas murais, murais em mosaico como temos em nossa cidade, esculturas, instalações e uma numerosa gama de produções que fazem do urbano seu suporte. Graffiti, embora possa ser enquadrado na categoria arte urbana, possui particularidades muito próprias. Ele é um dos elementos da Cultura Hip Hop e se insere em universo amplo de saberes. É resistência cultural e diz uma relação singular entre sujeitos e a pele da cidade”, explicou.
Construindo saberes
Apaixonada pela Cultura Hip Hop, a professora afirma que o conhecimento aprofundando sobre os temas abordados em sala de aula é primordial, o que inclui dar protagonismo a quem vivencia a cultura e viabilizar o conhecimento sobre narrativas diversas. Assim, permitem que os próprios alunos, a partir da diversidade de leituras e focos, possam construir seus saberes.
“Graffiti é cultura e a plasticidade dos trabalhos nessa vertente das artes visuais, tem sim ocupado cada vez mais espaços. Para mim, questionar se graffiti é ou não arte está fora de questão. A esse respeito basta que olhemos, por exemplo, a abertura da Pinacoteca de São Paulo (espaço formal para artes) para a exposição dos grafiteiros Os Gêmeos, e resguardadas as proporções, a ocupação de uma sala em um dos shoppings da cidade com a exposição de um grafiteiro local”, comentou Débora.
O e-book, vendido a um preço acessível, R$ 4,99, foi viabilizado com recursos da Lei Aldir Blanc e materializa o desejo de identificar e valorizar referências culturais em Uberlândia.
No Encontro de Graffiti marcaram presença grafiteiros reconhecidos nacionalmente como Bonga Mac, Does, Sowto DF Zulu e diversos outros artistas.
Para Débora, é muito importante para as pessoas perceberem que o graffiti mantém uma relação íntima com a comunidade. “Embora não seja de amplo conhecimento, há diversas ações já realizadas aqui, várias escolas tiveram seus muros ressignificados. Não é algo novo ou que seja próprio de Uberlândia, é característica da cultura. Precisamos ganhar novas lentes para compreender a cena do graffiti em nossa cidade”, finalizou.
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