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Todo Mundo Quer Ser Dona Margarida (?)

Após 50 anos, professora Dona Margarida vive os altos e baixos das aulas online

Abílio Tavares em “Todo Mundo Quer Ser Dona Margarida (?)” (Foto: João Caldas)

Em 1980, Abílio Tavares tinha 18 anos. Em Uberlândia (MG), ainda prestando vestibular para estudar Artes Cênicas na Universidade de São Paulo (USP), ele fez sua primeira direção de um espetáculo. A peça era “Apareceu a Margarida”, do dramaturgo carioca Roberto Athayde. “Foi um grande privilégio que me foi oferecido muito generosamente pelo grande artista uberlandense e mestre de todos nós, Flávio Arciole, que interpretou magistralmente esta grande personagem”, recorda o ator e diretor uberlandense, radicado em São Paulo, onde seguiu carreira acadêmica e começou a viver da sua arte.

Flávio Arciole e Abílio Tavares em 1980: ator e diretor de “Apareceu a Margarida”, em Uberlândia (Foto: Arquivo Abílio Tavares)

Acontece que ao longo de 40 anos, o encontro com o texto de Roberto Athayde virou algo recorrente em alguns momentos da vida do ator que desde 1980 se reencontrou com Dona Margarida em sete montagens diferentes.

A produção mais recente é “Todo Mundo Quer Ser Dona Margarida (?)”, concebida durante a pandemia, com duas temporadas feitas “no peito e na raça”, sem qualquer incentivo, em 2020 e retornou para uma curta temporada que termina neste final de semana (confira agenda abaixo).

“A pandemia foi um grande desafio também para todos os artistas. Realizamos duas temporadas deste espetáculo em 2020, sem nenhum recurso externo, contando apenas com a parceria de amigos e profissionais que toparam realizar este trabalho sem receber nada ou quase nada. Todas as 18 apresentações foram realizadas sempre ao vivo e com acesso totalmente gratuito para quem quisesse assistir. Realizamos este projeto, no peito e na raça, muito mais por uma profunda necessidade de sobreviver emocionalmente, como uma forma de afirmação da vida, da arte e do teatro num tempo de tanta morte, distanciamento e solidão”, disse o ator, em entrevista ao Uberground.

Neste ano, “Todo Mundo Quer Ser Dona Margarida (?)” recebeu seu primeiro apoio financeiro, graças à Lei Emergencial Aldir Blanc, responsável por inúmeras iniciativas artísticas em todo o país, com recursos repassados às prefeituras.

“O maior aprendizado desta experiência foi a possibilidade de atingir, ao mesmo tempo, via internet, espectadores dos mais diferentes e distantes lugares. Desde pessoas que nunca tinham tido a possibilidade de assistir a um espetáculo de teatro em regiões bem isoladas do Brasil, como pessoas em outros países como Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, Alemanha, França e Portugal, entre outros”, contou o artista.

Mas, você deve estar se perguntando, quem é essa Dona Margarida?

Na sinopse original, Dona Margarida é a nova professora do 5º  ano primário que chega para preparar os alunos para o temido exame de admissão ao ginásio. Escrita em 1971, a peça combina elementos intensamente cômicos com elementos dramáticos. Na releitura encenada por Tavares, com direção de Nicolas Iso, essa professora, como muitas e muitos, não estava preparada para aulas online. Ela ressente-se do poder e autoridade que perdeu na sala de aula nesses tempos de pandemia.

Agora, Dona Margarida está mal-humorada depois de quase um ano de aulas online, o que acentua suas características originais: autoritária, centralizadora e altamente provocativa. As aulas remotas pegaram de surpresa professores e professoras em todo o mundo. Na realidade brasileira, preparados ou não, foram obrigados a expor suas casas e formas de viver em aulas preparadas em formatos e plataformas que nem sempre dominavam. A mudança no nome da peça é explicada pelo ator. “Passados 50 anos, é como se a peça estivesse retomando a mesma força de quando foi escrita. A alteração no nome foi para enfatizar que hoje há muitas Margaridas autoritárias protagonizando a cena nacional”.

E o sucesso desse texto marcante da literatura brasileira não se deu apenas no Brasil. Até hoje, foram mais de 400 montagens traduzidas para cinco idiomas em mais de 30 países. Para Tavares, a produção atual serve também para abrir as comemorações dos 50 anos da peça, comemorados em setembro deste ano.

Além da direção de Iso e atuação de Tavares, o projeto conta com pesquisa pedagógica de Paula Zurawski e consultoria sobre direção de arte de Marco Lima.

MINHA CASA, MEU TABLADO

“Todo Mundo Quer Ser Dona Margarida (?)”  é encenada na casa de Abílio Tavares em São Paulo, que acaba emprestando à produção objetos para contrarregragem como panelas, mesas, cadeiras, utensílios de cozinha. São quatro cômodos e oito diferentes ângulos utilizados na montagem, responsáveis por criar uma dimensão de cenários variados e recursos cênicos que ampliam a narrativa. “Em todos os enquadramentos que são mostrados ao público durante a peça, há a presença da lousa. São ao todo 17 quadros em que Dona Margarida escreve quando anuncia algo que é muito importante. Para ela, o quadro é um instrumento de poder”, conta o ator.

BATE PAPO

Abílio Tavares participa, amanhã (28), às 19h, de uma conversa com os artistas contemplados nas etapas local e estadual do 9º Festival de Cenas Curtas de Uberlândia, promovida pelo Grupontapé, que começou na sexta-feira e vai até dia 31. O assunto é o desafio de criar e produzir arte em plena pandemia da Covid-19. Você pode participar pelo canal do Grupontapé no Youtube.

SERVIÇO

O QUE: peça “Todo Mundo Quer Ser Dona Margarida (?)”
QUANDO: Hoje (27) e amanhã (28)
HORÁRIO: 20h
EXIBIÇÃO ONLINE GRATUITA: canal A Dona Margarida Oficial, no YouTube
DURAÇÃO: 50 min
CLASSIFICAÇÃO: 12 anos

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