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Em 2019 a jornalista Caroline Michel-Aguirre lançou o livro “La Syndicaliste” (“A Sindicalista”), ainda sem tradução para o português. No mesmo ano, o cineasta Jean-Paul Salomé leu a obra investigativa e não pensou duas vezes: queria colocar aquela história nas telonas. Estreia nesta quinta (29), nos cinemas brasileiros, o resultado desse trabalho. O longa foi exibido na Seleção Oficial do Festival de Cannes, em 2022, e recebeu o prêmio de Melhor Filme da mostra “Venice Horizons”, do Festival Internacional de Cinema de Veneza, no mesmo ano.

Para Salomé, a jornada de Maureen – sua acusação, sua redenção, os momentos de dúvida e depressão sobre os quais ela triunfou – foi uma história cinematográfica por si só. Ele soube que o produtor Bertrand Faivre havia adquirido os direitos do título e não tinha um diretor em mente. “Falei com ele, chegamos a um acordo, e a roteirista Fadette Drouard e eu começamos a escrever o roteiro”, explicou o cineasta, no press release enviado aos jornalistas.

“A Sindicalista” conta a história real de Maureen Kearney, uma representante sindical que denunciou acordos secretos e abalou a indústria nuclear francesa no início dos anos 2000. O Underground participou da cabine virtual da Synapse Distribution, responsável pela distribuição do longa no país, e pode apostar que as duas horas valem cada segundo.

O filme começa com uma ligação para a polícia feita pela faxineira que encontrou Maureen em casa, amarrada a uma cadeira, com sinais de abuso e violência. No decorrer do longa conhecemos a forma como a sindicalista atuava – e incomodava – homens poderosos da política e da indústria nuclear não só da França, como de outros países envolvidos em transações de valores astronômicos e ética questionáveis. As coisas pioram para a sindicalista quando Anne Lauvergeon (Marina Foïs) é destituída do cargo de CEO da Areva.

É possível que em vários momentos do filme a história de Maureen se assemelhe a muitas outras. Nesse drama não faltam atitudes misóginas e machistas. E mesmo o filme se passando em um país de primeiro mundo, nota-se o despreparo, a falta de sensibilidade e o descaso com que são tratadas mulheres vítimas de violência e abuso e como é fácil para o sistema torná-las suspeitas – e antecipadamente culpadas – pela violência sofrida.

PROTAGONISTA

Não havia melhor candidata ao papel de Maureen que Isabelle Huppert.

Jean-Paul Salomé

A sindicalista Maureen Kearney é brilhantemente interpretada por Isabelle Huppert. O diretor Jean-Paul Salomé conheceu Maureen e a família, que aprovaram o roteiro e a escolha da atriz.

“Não havia melhor candidata ao papel de Maureen que Isabelle Huppert”, disse Salomé. Eles haviam trabalhado juntos em “A Dona do Barato” (2021) e além da semelhança física com Maureen causou um impacto positivo no diretor neste primeiro trabalho juntos.

A divulgação dos acordos ilegais, das péssimas condições de trabalho, da perda de direitos principalmente das mulheres em diversos desses acordos, sem contar o número alto de pessoas demitidas faziam de Maureen uma pedra no sapato de muitos poderosos. Ela teve seu passado revirado e mais de uma vez questiona: “Não fui uma boa vítima?”.

Isabelle, que também teve a oportunidade de conhecer Maureen, comenta as diferentes nuances do caso que influenciaram sua interpretação. Para a atriz, o mais interessante é o ceticismo e a ambiguidade que surgem da maneira como os outros veem a personagem. Em nenhum momento ela disse ter pensado se a sindicalista era culpada ou inocente.

“O que mais me interessou foi o tumulto que ela gerou. Ela era uma sindicalista, não deveria liderar um exército. Mas construiu um pequeno reino do qual decidiu comandar e resistir. No final, ela estava sozinha contra o mundo.”

Para saber se o filme está em cartaz na sua cidade verifique a programação da semana.