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Kátia Bizinotto

A reinvenção do Grupontapé

Bia Pantaleão foi de espectadora de “Questão de Hábito” para atriz na videopeça (Divulgação)

Em uma rápida pesquisa realizada via stories na página do Ubergound no Instagram, percebeu-se que em 2020 os respondentes consumiram mais arte e cultura do que consumiriam fora de um período de pandemia e também que adquiriram algum produto de um artista local.

Assim como todos os setores artísticos o teatro precisou se reinventar, se jogar na rede mundial de computadores em nome da sobrevivência. Com 26 anos de história, o Grupontapé de Teatro, de Uberlândia, orgulhosamente, realizou a pré-estreia de sua nova produção em dezembro passado, e no final de janeiro, com apoio da lei emergencial Aldir Blanc, terá novas sessões pelo canal do grupo no YouTube.

Trata-se da videopeça “Questão de Hábito em Tempo de Isolamento” , uma continuação da peça “Questão de Hábito”, que compõe o repertório do grupo desde a sua formação.

Parafraseando Nelson Rodrigues (1912-1980), a arte vem mostrando a vida como ela é. Em “Questão de hábito em Tempo de Isolamento” é possível que você se identifique com algum personagem. Ou conhece alguém “daquele jeitinho”.

Por estarmos todos obrigados a conviver com os impactos causados pela pandemia, para o coordenador e produtor do Grupontapé, Rubem dos Reis, neste período tão difícil pelo qual todos passamos, para o grupo é motivo de alegria e emoção conseguir apresentar uma nova forma de se comunicar com o público.

“Como vivemos momentos de escassez nos adequamos com uma produção enxuta e totalmente caseira. Usamos equipamentos alternativos como celulares, câmaras dos atores e programas abertos de edição operados pela equipe, sem contratações de profissionais da área de vídeo”, explicou o produtor.

Porém, a sensibilidade artística do grupo compensou qualquer ausência de expertise técnica. Em alguns momentos, parecia que estávamos assistindo a um material pré-gravado, dada qualidade das imagens, os cortes e a forma como as histórias se entrelaçam. Isso deu um certo dinamismo à produção que consegue prender a atenção do espectador mesmo com um tema já tão explorado.

Sinopse
A videopeça conta a história do casal João e Rita e dos colegas de trabalho Joca e Sara Lia, recém-enamorados e Dr. Beto, médico da empresa, todos colegas de trabalho que, como toda a população, foram surpreendidos pela pandemia da Covid-19. Se antes os personagens circulavam entre a empresa, suas casas, ponto de ônibus e lugares sociais, com o isolamento a história continua, mas agora em home-office. E assim, seja no trabalho ou nas relações pessoais, tentam encarar esta nova realidade da melhor maneira possível, cada um à sua maneira.

Estrutura otimizada, visando também a segurança dos atores e equipe (Divulgação)

As descobertas durante o processo

Welerson Filho afirma que trabalhar com o desdobramento de “Questão de Hábito” para o universo do audiovisual foi um grande desafio para ele enquanto ator. “Os códigos e registros de atuação, apesar de dialogarem com o teatro, possuem diversas especificidades e camadas que foram sendo descobertas durante o próprio fazer”.

Bia Pantaleão era criança quando “Questão de Hábito” estreou e por isso tem um carinho muito grande pela peça. Atualmente, ela vive Sara Lia em “Questão de Hábito em Tempo de Isolamento”.

“Lembro-me de assisti -lo na Escola Livre do Grupontapé quando tinha uns 12 anos e ainda não havia decidido que teatro seria o meu ofício. Era, para mim, um espetáculo emocionante e divertido. Como o mundo dá, sempre, muitas voltas, hoje faço parte do elenco dessa peça que é de um grupo que admiro”, disse a atriz, que afirma ter diferenças e semelhanças com sua personagem.

Para Rubem dos Reis, essa continuação foi uma experiência gostosa e desafiadora. “Lembro o quanto o público se envolvia nas apresentações presenciais e tínhamos um retorno imediato do que estávamos fazendo no palco. Nessa produção estávamos descobrindo uma forma de fazer teatro diferente, entendendo o que o contexto nos oferecia para criação. A curiosidade agora é saber como o público vai se relacionar com esse formato e esses personagens que nos divertimos fazendo”.

Kátia Bizinotto tem sua trajetória como atriz marcada por Nelson Rodrigues, mas a compreensão do que era fazer teatro deu-se com com “Questão de Hábito”, uma produção atemporal que foi a muitos lugares.

“Essa peça foi literalmente foi aonde o povo está. E quando digo o povo são os trabalhadores, as pessoas da base dessa pirâmide que trabalham no mínimo oito horas por dia e não têm disposição ou tempo para buscar algum entretenimento, porque quando chegam em casa tem o trabalho da casa também, especialmente as mulheres e por isso amo fazer a personagem Rita na peça”, comentou.

Em sua história, retratada por Eduardo Moreira no livro “GruPontapé – A Construção de Uma Maioridade” (2018), um dos temas abordado é a forma com que o Grupontapé chegou ao mundo corporativo, na época, algo que foi alvo de críticas e depois mostrou-se necessário e importante para a sobrevivência da companhia, entrando, também, na rotina de outros grupos.

Segundo Kátia, é preciso pensar nas pessoas que têm pouca oportunidade de ir a um teatro, ao cinema, e principalmente, que têm a falsa ideia de que teatro, arte, cultura, é coisa da elite.

“Eu nunca me esquecerei de um depoimento de uma pessoa da plateia em uma empresa depois de uma apresentação da peça. ‘Isso é que é teatro? Ah, então agora eu vou!’. Eu me emocionei… neste dia senti que a gente formava público. Entendi o que é formação de plateia”, relembrou a atriz.

E nesses tempos de isolamento social, que salva vidas, ela não pensou duas vezes para falar com a roteirista Katia Lou e com Rubem dos Reis para essa sequência de “Questão de Hábito”.

“Já fizemos teatro e isso não é a mesma coisa, já fizemos cinema e isso não é a mesma coisa. A nossa vídeo-peça é algo que ainda não existia e isso me emociona porque o Grupontapé sempre teve que roçar o mato e abrir caminhos. Esse é para nós um novo caminho. Com essa produção espero ajudar na conscientização desse período que estamos passando e também chegar mais perto do público, com questões concretas do cotidiano de um trabalhador, uma trabalhadora, em tempo de isolamento. Arte pra mim só tem sentido se eu puder servir”, finaliza Kátia.

Confira o teaser:

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

PEÇA: Questão de Hábito em Tempo de Isolamento
CLASSIFICAÇÃO: livre
DURAÇÃO: 48 minutos
ROTEIRO E DIREÇÃO: Katia Lou
ELENCO: Bia Pantaleão, Breno Maia, Imanol Tolaretxipi, Kátia Bizinotto, Welerson Filho
FIGURINO: Flávio Arciole / Camarim: Maria Rosa dos Santos / Edição: Cláudio Henrique Strondum
PESQUISA MUSICAL Katia Lou / Direção de Fotografia: Cláudio Henrique Strondum / DIREÇÃO DE ILUMINAÇÃO: Cláudio Henrique Strondum e Katia Lou / Produção Executiva: Marisa Cunha e Eder Florêncio / Assistente de Produção: Rafael Bizinotto / Office boy: Eliene Ricardo / Assessoria de Imprensa: Érica Magalhães / Marketing Digital: Guilherme Shimogaki / Mídias Sociais: Bia Pantaleão
COORDENAÇÃO DO NÚCLEO ARTÍSTICO: Katia Lou / Coordenação Administrativo-Financeira: Katia Bizinotto / Coordenação de Execução Orçamentária: Aline França / Coordenação de Produção: Rubem dos Reis / Produção Geral: Balaio do Cerrado Produtora / Apoio: Escola Livre do Grupontapé / Realização: Grupontapé

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