Alanis Morissette é uma artista que não se limitará
Uma mulher de 46 anos, mãe de três filhos, casada, defensora de causas feministas, educacionais e ambientais. Ela gosta de fazer de tudo um pouco: dançar, atuar, compor, cantar, escrever, pintar. Não se permite colocar em uma só seção da prateleira ou em uma caixa qualquer que achem que ela vai se encaixar.
Mas é na música que ela brilha mais e nos dá muitas razões para amá-la mais a cada novo álbum. Vinte e cinco anos separam “Jagged Little Pill” (1995), terceiro e maior sucesso de Alanis Morissette – de “Such Pretty Forks in the Road” (2020), álbum mais recente da cantora e compositora canadense. A menina que usou o cachê do programa infantil no qual trabalhava para gravar seu primeiro single aos 10 anos de idade é um exemplo feminino forte no show business.
“Such…” foi lançado diante de um cenário que não permitiu uma turnê. Alanis teve que adiar também outro projeto, a turnê dos 25 anos de “Jagged…” e ver postergada ainda a estreia na Broadway do musical que marca essa data.
Entre as ações de divulgação do álbum no ano passado Alanis respondeu a perguntas dos fãs em uma live para a Amazon Music em que afirma: “Na minha infância não era permitido que eu manifestasse três tipos de sentimento: tristeza, raiva e medo”. Graças a uma busca pelo autoconhecimento a artista se permitiu, também com a ajuda de muita terapia, não segurar nada, se permitiu uma avalanche de emoções e muitas delas foram transformadas em música.
Casada desde 2010 com o rapper americano Mario Treadway (MC Souleye), Alanis é mãe de Ever Imre, Onyx Solace e Winter Mercy, o caçula, que completa 2 anos em agosto. Nas três gestações, a cantora e compositora teve depressão pós-parto, tema que ela conta e canta em “Diagnosis”. Atualmente, Alanis, como muitas mulheres ao redor do mundo, se equilibra entre as múltiplas funções e os filhos marcaram presença em várias das lives da artista feitas durante a quarentena.
Alanis mostrando que é “gente como a gente”, mas com um talento tão especial que a homenagem aos filhos, “Ablaze”, se configura em uma as melhores músicas do disco e ganhou um daqueles videoclipes fofos e coloridos que faz a gente suspirar, todo feito na casa dela, que depois de mais de 20 anos morando em Los Angeles, em 2019 ela se mudou novamente com a família para o Canadá.
Apesar de ter uma presença maciça na mídia desde que lançou “Jagged…”, que sucedeu dois álbuns pop com pouco alcance, Alanis sempre se manteve concentrada no que era importante para ela, e para a sua carreira, mesmo que isso significasse um tempinho longe dos holofotes.
Depois de tomar o mundo como um furacão com o álbum vencedor em quatro categorias do Grammy em 1996, o que esperar dela? Um diferente tipo de manifesto. Quando saiu o single “Thank you” e logo “Supposed former infatuation junkie” (1998), Alanis já mostrava que não era de repetir fórmula.
TRACKLIST SUCH PRETTY FORKS IN THE ROAD
1. “Smiling”
2. “Ablaze”
3. “Reasons I drink”
4. “Diagnosis”
5. “Missing the Miracle”
6. “Losing the Plot”
7. “Reckoning”
8. “Sandbox Love”
9. “Her”
10. “Nemesis”
11. “Pedestal”
BASTIDORES
“Such Pretty Forks in the Road” saiu oito anos depois de “Havoc and Bright Lights” e começou a ser escrito em 2017. A música que abre o álbum, “Smiling”, foi escrita para o musical da Broadway que teve sua estreia adiada para junho. Se você quiser saber um pouco mais sobre o musical, indicado a 15 prêmios Tony, assista à live “You Live, You Learn: A Night With Alanis and Jagged Little Pill”.
E foi entre uma live e outra, produções para o podcast “Conversation with Alanis Morissette” e entrevistas remotas, inclusive para o Brasil, que Alanis promoveu o álbum com 11 canções. A obra traz vários momentos de reflexão, uma viagem sonora por meio das letras de uma artista que não parou no tempo e também não caiu no clichê de se tornar uma caricatura de si mesma.
Além das já citadas “Smiling”, “Ablaze” e “Diagnosis”, outra canção autobiográfica traz um momento delicado na carreira de Alanis, “Reckoning”. O empresário contratado por Alanis em 2016, que passou a ser responsável por suas finanças, notou transações incomuns entre 2010 e 2014. Todd Schwartz, então empresário da cantora, foi condenado por desviar dinheiro dela, cerca de US$ 5 milhões. Para Alanis, a música é uma luta contra o patriarcado na sociedade em que vivemos.
Alanis não trabalhou sozinha em “Such…”. Ela divide a autoria das músicas com Mike Farrell e a produção é de Alex Hope e Catherine Marks. Dependendo de como a imunização contra a Covid-19 avançar, a previsão é de que Alanis volte à estrada com a tour de 25 anos de “Jagged Littel Pill” em junho e siga até dezembro em shows já agendados para Estados Unidos, Europa, Nova Zelândia e Austrália
BRASIL
Alanis Morissette parece ter um lugar especial no coração para os seus fãs brasileiros. Poucos artistas como ela tiveram praticamente todas as turnês passando por aqui. Começou em 1996, com a tour de “Jagged…”, depois veio em 1999 com “Unplugged”, voltou em 2002, promovendo o “Under rug swept”, veio no anos seguinte, e sua última passagem pelo país foi em 2012, na turnê de “Havoc and bright lights”.
Tive a oportunidade de vê-la ao vivo em 2003, no Brasilia Music Festival, e em 2012 no Chevrolet Hall, na capital mineira. Participei ainda de duas entrevistas coletivas, a de 2002 e 2012. Em todas as situações uma coisa não mudou. Alanis é uma artista nata, sempre foi muito espontânea tanto diante quanto fora dos holofotes. Nas entrevistas olha nos olhos do repórter, respondendo sobre as músicas, a cor do esmalte ou os cabelos, ela não tirava o sorriso do rosto.
Durante o show de Brasília ela parecia um pouco mais contida no palco do que eu estava acostumada a ver na TV, o que não comprometeu a entrega no palco onde ela falou pouco e cantou muito. Em Belo Horizonte, em um espaço menor, ela parecia bem mais “em casa”. A diferença ia além dos cabelos, curtos em 2003 e novamente longos em 2012. Alanis havia se tornado mãe dois anos antes.
Abaixo, confira a última música que ela cantou em BH.
Nas telinhas
A primeira passagem de Alanis pelo Brasil foi bem documentada em vídeo. A cantora, que também é atriz, fez participação em “Malhação” (Globo), com sua banda, que na época ainda contava com Taylor Hawkins, hoje no Foo Fighters, tocando versão acústica de “Head over feet”. No “Programa do Jô” conversou com o apresentador e cantou, também em versão acústica, “Jagged Little Pill”. O disco foi mesmo um fenômeno na carreira da canadense. Ela ainda passou pelo “Programa Livre” (SBT), de Serginho Groisman, desta vez plugada com “You oughta know”, “You learn” e “Head over feet”. Em uma iniciativa inédita, a então jovem MTV, no seu sexto ano, junto com a Transamérica, fizeram uma transmissão simultânea para rádio e TV do “Estúdio ao vivo” com Alanis Morissette, apresentação do Rui Bala pela rádio e pelo querido Gastão Moreira para a TV. E ela ainda bateu ponto no “Top 20” da MTV onde conversou com Sabrina Parlatore.
Ficou curioso para ver os vídeos? No canal Alanis Morissette no Brasil tem todos.
Em 2003 ela também gravou uma participação, como ela mesma novamente, na novela “Celebridade” (Globo) em que contracenou com Malu Mader, Julia Lemmertz e Paulo Vilhena. Recentemente voltou a dar entrevistas para o “Fantástico” e “Altas Horas”, da mesma emissora.