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“Ficções” é um convite a cooperação entre artistas e plateia em um espetáculo baseado em livro de Yuval Noah Harari

“Boa tarde!” A voz grave ecoa pela sala de imprensa do hotel, onde está prestes a começar a coletiva de “Ficções”, espetáculo em cartaz no Teatro Municipal de Uberlândia neste sábado (2) e domingo (3). A saudação vem de Vera Holtz, protagonista da peça, que entra acompanhada do músico e produtor Federico Puppi e da produtora Alessandra Reis. Com quase 50 anos de carreira, Vera cumprimenta todos com simpatia, prontamente aceitando um pedido para remover os colares que poderiam interferir nos microfones, voltando a usá-los logo em seguida, mas sem comprometer o áudio.

Essa breve introdução reflete o espírito acessível e autêntico da atriz, cuja presença carismática não precisa de gestos de estrelismo. Em seus olhos, brilha o entusiasmo de quem vive e respira arte, seja nos palcos ou fora deles. Ao falar sobre “Ficções”, Vera transmite a mesma paixão com que atuou em sua estreia, há pouco mais de um ano.

Inspirado no best-seller Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, do historiador israelense Yuval Noah Harari, o espetáculo é uma criação de Felipe Heráclito Lima, que obteve os direitos da obra em 2019. Quando a produtora Alessandra Reis contatou Vera para o projeto, não foi preciso sequer apresentar um roteiro para obter seu “sim”.

“Eu conhecia o livro desde o lançamento no Brasil e já presenteei muitas pessoas com ele. Acho essencial que o homo sapiens compreenda tanto sua condição animal quanto sua incrível capacidade de inventar histórias, e foi isso que me cativou”, conta a atriz.

Sem um plano totalmente definido, Rodrigo Portella reuniu uma equipe que compartilhava da mesma empolgação de Vera. O espetáculo foi construído em etapas, com reuniões a cada 15 dias. “Foi desse processo que as sequências foram tomando forma, e das ideias compartilhadas nasceu essa reflexão coletiva sobre expansão e as grandes narrativas que estamos vivendo”, explica a atriz.

Federico Puppi, com suas composições originais ao violoncelo — instrumento que ecoa a tessitura da voz humana —, trouxe uma dimensão especial à peça. Assim como Vera, nascida em Tatuí, no interior de São Paulo, Federico também vem de uma pequena cidade, Aosta, na Itália, onde começou a estudar música aos quatro anos. Ele comenta que o espetáculo começou a ganhar forma nos primeiros ensaios com plateia.

“A Vera tem uma potência vocal incrível, e nossa interação no palco flui de muitas formas. Desde o início, ela se mostrou disposta a explorar tudo o que poderíamos apresentar ao público”, diz Federico.

Vera Holtz e Federico Puppi em coletiva de imprensa em Uberlândia (Adreana Oliveira)

Vera menciona que voltar ao teatro após anos de televisão exige uma entrega atlética, principalmente para performances longas e intensas. “A televisão te protege, mas o teatro exige que você esteja em plena forma, com voz, expressão e físico preparados. Aos 72 anos, eu estou ali, assumindo personagens que vão de um fóssil a um rei, passando por um asno e até por pessoas da plateia”, conta.

O espetáculo, originalmente um monólogo, tornou-se um “duólogo” com Federico, cuja música dita o ritmo. “Nós cantamos, dançamos, interagimos e nos desafiamos constantemente. No teatro, somos como máquinas em movimento contínuo. Esse projeto nos ensina muito, e cada pessoa envolvida tem um papel protagonista”, comenta Vera.

Já apresentado em cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e até Portugal, “Ficções” soma mais de 250 exibições. A cada palco, a peça se fortalece e evolui. Vera recorda com carinho o momento em que saiu de Tatuí, prometendo a si mesma que se tornaria conhecida em todo o Brasil — um feito concretizado ao longo de sua carreira, especialmente nas novelas.

Para a atriz, “Ficções” é uma experiência única que “redimensiona” sua relação com o real. “A peça me traz de volta ao mundo. A televisão cria uma barreira, mas aqui, no teatro, estou em contato direto com o público, o que me desafia de uma maneira completamente nova”, reflete Vera.

Vera Holtz (Ale Catan)

O espetáculo propõe uma reflexão sobre a existência humana, do macrocosmo ao cotidiano, algo que, para Vera, é essencialmente nutrido pelas relações. “Se você não tem vínculos reais, não se transforma. Minha criação e convivência com uma grande família me deram essas referências de vida que hoje trago ao palco”.

Federico, por sua vez, também traz uma trajetória rica em trilhas para cinema e TV, mas destaca que “Ficções” é especial. “No palco, sou o que o diretor espera de mim. Diferente de um show, aqui a minha postura cênica precisa estar em sintonia com o personagem”, afirma.

Para ambos, “Ficções” é uma jornada de cooperação e de respeito mútuo entre todos os envolvidos — inclusive a plateia. “Aprendemos a não subestimar o público; é possível falar sobre temas complexos e profundos de uma forma acessível”, observa Federico.

Sem cortinas para delimitar início e fim, o espetáculo transforma o ambiente e os espectadores, envolvendo-os em uma experiência imersiva. A produção local trouxe tecnologia de som surround para ampliar a sensação de 360º, criando momentos de plena comunhão entre palco e plateia.

Neste domingo, Uberlândia terá a última sessão de “Ficções”. Acompanhe a agenda no Instagram (@ficcoespetaculo) e, se puder, assista a esse espetáculo. Será um convite para refletir sobre a condição humana e sua própria jornada no mundo.

Vera Holtz em cena em “Ficções” (Ale Catan)

SERVIÇO
O QUE: espetáculo “Ficções”
DIAS/HORÁRIOS: 2 de novembro às 20h e 3 novembro às 18h
LOCAL: Teatro Municipal de Uberlândia (Av. Rondon Pacheco, 7.070, Tibery)
CLASSIFICAÇÃO: 12 anos
DURAÇÃO: 80min
GÊNERO: drama
INGRESSOS: entre R$ 42 e R$ 160 à venda online pelo MegaBilheteria (com taxa de conveniência) ou na bilheteria do teatro (sem taxa), sujeito a lotação

QUEM FAZ O ESPETÁCULO ACONTECER
Elenco: Vera Holtz | Escrita e encenada por Rodrigo Portella | Idealizada por Felipe Heráclito Lima | Performance e Trilha Sonora Original: Federico Puppi| Interlocução dramatúrgica: Bianca Ramoneda, Milla Fernandez e Miwa Yanagizawa | Cenário: Bia Junqueira | Figurino: João Pimenta | Iluminação: Paulo Medeiros | Preparação corporal: Tony Rodrigues | Preparação vocal: Jorge Maya | Programação Visual: Cadão | Fotos: Ale Catan | Direção de produção: Alessandra Reis | Gestão de projetos e leis de incentivo: Natália Simonete | Produção executiva: Wesley Cardozo | Administração: Cristina Leite | Produtores associados: Alessandra Reis, Felipe Heráclito Lima e Natália Simonete | Produção local: Uberlândia na Rota das Culturas | Assessoria de imprensa local: Cristiane Guimarães

Foto da capa: Ale Catan

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