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Escrevendo certo por linhas tortas, Enzo e Danislau lançam coletânea de crônicas de jornal

Há uma função dentro do jornalismo que vem sempre acompanhada por privilégio e dor: a função de editor. Quando se trata então de editor de colunas assinadas, tão pessoais, tão cheias de significado para quem escreve, a responsabilidade dobra. O privilégio é ler em primeira mão algo que pode impactar muitos leitores, e começa impactando o próprio editor. A dor vem no momento de precisar repensar algo por pura questão de espaço – nunca por questões ideológicas, é bom reforçar.

Bons colunistas são aqueles que conseguem colocar em 25, 30 linhas, ou os famosos entre 1,5 mil e 2 mil caracteres, uma vida inteira. Enquanto editora de cultura de dois jornais impressos de Uberlândia (MG), Correio de Uberlândia e Diário de Uberlândia, conheci e reconheci colunistas incríveis. Alguns deles já lançaram seus textos em livros e agora é a vez de mais dois recolocarem essas escritas pro mundo: Danislau e Enzo Banzo.

Amigos, parceiros na banda Porcas Borboletas, escreveram crônicas para jornais de Uberlândia, entre os anos de 2010 e 2023, em períodos distintos. Danislau foi o primeiro: de 2010 a 2014, publicou na coluna “Musicais”, do Jornal Correio. Entre 2018 e 2023, foi a vez de Enzo Banzo apresentar seus textos nas Crônicas do Diário, do jornal “Diário de Uberlândia”. Em ambos, Banzo e Danislau contaram com a editoria dessa jornalista que vos escreve, Adreana Oliveira.

Unindo o percurso literário dos dois artistas nas páginas da imprensa, os textos foram reunidos no box “Literatura de jornal: escritos de Enzo Banzo e Danislau“, com dois livros: “Beleza do erro: crônicas e alguma crítica”, de Enzo Banzo; e “Na rede pelo lado de fora e outras crônicas“, de Danislau, que será lançado neste sábado (9) durante a última edição deste ano, do Noite Literária (confira programação completa abaixo).

Enzo Banzo é músico, escritor e pesquisador. É autor dos livros “Poesia colírica” (Letramento, 2014); “Copo de sede” (Duna, 2021), com Paula Lice; e “Lamber a língua: Caetano 80” (Folhas de Relva, 2023), coorganizado com Márcia Fráguas e Leonardo Davino. Lançou os álbuns “Canção escondida” (Matraca Records, 2017) e “Amor de AM” (Matraca Records, 2021). Com a banda Porcas Borboletas gravou quatro discos. Ele é doutor em Estudos Literários pela UFU.

Danislau também é músico, escritor e professor. Publicou os livros “O herói hesitante: autobiografia de um anônimo” (poesia, edição do autor, 2005) e “Hotel Rodoviária” (prosa, edição do autor, 2014); e o conto “O besouro na parada de Itaobim”, na antologia “Rock Book: contos da era da guitarra” (Editora Prumo, 2011). Lançou o álbum de audioficção “Carniça” (2016). Com a banda Porcas Borboletas, gravou quatro discos. É doutor em Teoria Literária pela USP e professor de Língua Portuguesa e Literatura na Faculdade Cásper Líbero, no Anglo Vestibulares e no CPV Educacional.

SERVIÇO 1:

Lançamento: “Literatura de jornal: escritos de Enzo Banzo e Danislau” – box com 2 livros: “Beleza do erro: crônicas e alguma crítica”, de Enzo Banzo e “Na rede pelo lado de fora e outras crônicas”, de Danislau.
Projeto Gráfico: Estúdio Claraboia | Texto de capa (box): Lu de Laurentiz | Prefácios: Jorge Alexandre Araújo e Marcílio Lucas | Revisão: Mariana Anselmo | Lançamento: Editora Subsolo | Distribuição: Terreno Estranho | Incentivo: Programa Municipal de Incentivo à Cultura – PMIC

SERVIÇO 2

Evento de Lançamento do box “Literatura de jornal: escritos de Enzo Banzo e Danislau”
Data: 9 de dezembro
Local: Cervejaria Captain Brew (Rua Marieta Castro Santos 135, Uberlândia)
15h30 Abertura da casa – Discotecagem Nunca Fui DJ
19h
Artistas convidados: Robisson Sete, Mariana Anselmo, Vaine
19h30
Som e palavra com Enzo Banzo e Danislau
20h
Show Bregalize com Barato Total
ENTRADA FRANCA

Uma pergunta para dois

Danislau e Enzo Banzo estarão hoje no lançamento na Captain Brew (Foto: Gustavo Moita)

“A coluna tá pronta?” Esta deve ser a pergunta que os escritores mais ouviram da editora, afinal, toda semana era um ou outro trazendo uma visão toda particular do cotidiano. Às vezes, com tudo prontinho, o destino pregava uma peça e lá íamos nós trocar tudo. Dessa vez, a pergunta enviada aos dois foi outra: “Como se sentiu revisitando este material, o que mais mexeu com você” (um jornalista dificilmente faz uma pergunta só, vai no mínimo uma de brinde. Abaixo, os depoimentos, com o mínimo de edição.

Para Enzo Banzo

Essa é aquela pergunta que a gente gosta de ouvir e é cheia de coisa pra dizer. Tem muita história, muitas impressões. Do meu livro estou publicando tudo. O Dani selecionou. Eu dividi o material em três capítulos. O primeiro do início até março de 2020. A partir daí veio a pandemia, que impactou muito no texto. E a terceira parte é quando as coisas começam a voltar a uma certa normalidade. Foi interessante pensar nesse movimento de tudo que passamos, como era, em 2019, escrever naquele contexto. Meu texto tinha um humor que em 2020 que não consegui ter, escrevendo no contexto do isolamento. Do ponto de vista histórico esse trabalho contou com essa mudança na escrita. Quando se afasta do texto e volta pra ela muitas vezes nos surpreendemos com o que escrevemos. Gosto de ter falado muito dos artistas da cidade e também dos artistas nacionais, misturar isso, acaba dando um panorama do presente, principalmente da canção e da literatura, as artes nas quais sou mais ligado. Pra mim foi bom falar não só de mim mas também contribuir com a minha leitura e minha escrita para outros trabalhos. Fiquei muito feliz com esse lado que para mim ainda é novo, um lado jornalístico da coisa com a minha pegada literária. Gostei de ler tudo em conjunto e percebi que a coisa se sustentou e é bem emocionante ler a coisa toda.

Para Danislau…

É uma alegria ver esse material, essas crônicas aflorarem porque dizem muito sobre nossa maneira de estar no mundo e de produzir linguagem e são testemunhas da nossa amizade que é algo precioso para mim. Essas crônicas falam muito sobre nós enquanto cultura, enquanto indivíduos e isso me alegra muito porque observar por elas a cultura, a cidade de Uberlândia é um ente difuso, é difícil falar de uma cidade como se tivesse falando de uma pessoa. Uma cidade é uma composição muito complexa e acho que essas crônicas investigam essa composições complexa que se insere num contexto mais amplo de Brasil e mundo que são também composições muito complexas. Tem um esforço de percepção nelas, tentativa de buscar processar por meio da linguagem tantos estímulos que a vida ofereceu há 15 anos. São camadas e mais camadas que descobrimos por essas crônicas e fazer essa descoberta novamente é revelador.

Na noite de sábado, ambos participam de noite de autógrafos regada a muita música e alegria, e com certeza, mais um capítulo dessa amizade que transborda cultura.

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