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Skank em foto de Weber Pádua

Skank aprendeu a lidar com o sucesso sem culpa

*Texto originalmente publicado em agosto de 2006 no jornal Correio de Uberlândia

Skank em uma de suas passagens por Uberlândia, no camarim da Acrópole, em 2002 (Adreana Oliveira)

Na década de 90, em meio a uma inércia no mercado pop rock nacional e a avalanche grunge mundial, Minas Gerais dava sinais de que era um potencial pólo de produção musical de qualidade. Neste cenário, surgiu o Skank. Samuel Rosa (vocais e guitarras), Henrique Portugal (teclados), Lelo Zaneti (baixo) e Haroldo Ferretti (bateria) fizeram um disco independente em 1993, com uma tímida tiragem de 3 mil cópias. Treze anos depois, eles lançam “Carrossel”. O nono disco, oitavo de inéditas, chega com os costumeiros hits radiofônicos e sonoridade mais para o rock clássico do que para o reggae festeiro que caracterizou a banda no início de carreira. “Um disco novo precisa de novidades, tentamos fazer coisas diferentes e acho que conseguimos”, disse o tecladista Henrique Portugal.

Henrique conta que as referências utilizadas em “Carrossel” começaram em “Maquinarama”, disco de 2000. “É uma tendência natural”, justificou. Muitas guitarras, arranjos caprichados e criatividade harmônica juntam-se às letras de Samuel Rosa e seus parceiros de caneta. “A maioria das músicas do disco foram melodias que foram passadas para os letristas”, contou Henrique. Os frutos já reluzem nas ondas radiofônicas; “Uma Canção é Pra Isso”, “Lugar”, “Seus Passos” e “Cara Nua” são verdadeiras pérolas pop de uma fábrica de hits chamada Skank. Henrique Portugal falou sobre os bastidores da produção. “A banda precisa de alguém que chame a atenção quando está ‘viajando’ demais e não abrimos mão de um produtor”, comentou. Chico Neves, co-produtor do disco, teve um companheiro: Carlos Eduardo Miranda. Antes conhecido no circuito interno do show business, agora chama mais atenção que muitos artistas, resultado de sua participação como jurado no programa Ídolos. “O Miranda sempre foi um parceiro, só oficializamos a relação”, explicou. Companheiro de Tom Capone, produtor morto em 2004, Miranda troca figurinhas com o Skank desde o disco independente. “Ele sempre agregar alguma coisa a mais do que a gente imaginava fazer”, confidenciou. Henrique disse que o Skank musicalmente está muito bem resolvido e o produtor está ali para dizer quando passam do ponto, ou exageram. “Sem contar a direção técnica do Chico Neves, que é excepcional”, comentou.

“Estar em estúdio é tão sedutor quanto a estrada”. Assim, Henrique Portugal define a alegria de poder trabalhar literalmente, em casa. O estúdio do Skank fica nos fundos da casa de Haroldo Ferretti, o baterista. A partir de 2000 eles começaram a equipar o espaço e usá-lo com mais freqüência. Para uma banda que já teve disco (Siderado) mixado em Abbey Road, em Londres, imortalizado pelos Beatles, ter a mesma qualidade em um disco gravado e mixado em casa (Carrossel) tem um gostinho especial. Fazem a pré-produção do disco, discutem as músicas, experimentam, ensaiam, tudo isso sem se preocupar com o tic-tac do relógio. Afinal, uma banda iniciante, por exemplo, gastaria uma pequena fortuna em locação de estúdio para ensaio e gravação.

Henrique Portugal acredita que no Brasil há uma pressão para que a banda esteja sempre na estrada, mas, as condições das mesmas nem sempre favorecem os shows. No dia da entrevista, um imprevisto atrasou toda a agenda da banda em São Paulo. “Acho que só não tocamos em Boa Vista”, recordou o Henrique. Ele comentou que a banda saiu do quantitativo para o qualitativo. A turnê de “Carrossel” começa neste mês e provavelmente passará por Uberlândia. Em 06 de dezembro de 1996 a banda fazia seu primeiro show na cidade, com a turnê de “O Samba Poconé”. O público que lotou o UTC só fez aumentar, o que os trouxe novamente em outras tours. Em ginásios ou em estádios de futebol, o poder do Skank é o mesmo, atingindo a várias faixas etárias que têm em comum o gosto pela boa música. E que atire a primeira pedra quem nunca e pegou cantarolando uma canção dos mineiros.

Do Outro Lado

Quando não está na estrada ou no estúdio com o Skank, o tecladista Henrique Portugal encontra tempo para fazer um programa de rádio, o Frente. O programa vai ao ar às 22h, todas as segundas-feiras, na rádio Oi FM e fica disponível também no UOL. “Já toquei uma banda de Uberlândia, o Porcas Borboletas”, lembrou. Antenado com o que rola no mercado independente, Henrique diz que não é pecado fazer sucesso. “No Brasil, não só na música, como em qualquer carreira, parece que as pessoas se sentem incomodadas com a possibilidade de sucesso”, disparou. Eles chamam isso de culpa católica. “Nem tudo que toca no rádio é ruim, é preciso ampliar esse contexto de pop no Brasil”, disse Samuel Rosa em uma entrevista ao CORREIO, em 2002.

Henrique recebe muito material e percebe a importância dos selos nos trabalhos das bandas. Para quem está começando, uma dica. “Recebo muito material pela internet, mas às vezes a banda complica tanto que você não encontra o release no site”, comentou. “O Skank começou com banda independente e sabemos o quanto é importante saber produzir e distribuir seu trabalho”, exemplificou.

Henrique acredita que quem grava um disco quer tocar no rádio, se diz o contrário é apenas um discurso cheio de desculpas. “Não adianta ter uma música elaborada e diferenciada se poucos a entendem”, frisou. Outra lenda é a do artista que se diz incompreendido, cuja música é tão boa que as pessoas não conseguem entender. “Nesse caso, deve ter alguma coisa errada”, finalizou.

O Skank em números

Oficialmente, o Skank já vendeu mais de cinco milhões de discos, sem contar o recém-lançado “Carrossel” (Sony & BMG). A carreira sólida começou com um disco independente com tiragem de 3 mil cópias. “Skank” (1993) chamou a atenção da Sony Music, que contratou os mineiros e relançou o disco como “Skank 93”, elevando a vendagem para 250 mil cópias.

DISCOGRAFIA

Carrossel (2006)
Radiola – Coletânea (2004)
Cosmotron (2003)
Ao Vivo MTV Skank (2001)
Maquinarama (2000)
Siderado (1998)
O Samba Poconé (1996)
Calango (1994)
Skank 93 (1993)

DVDS

Multishow Ao Vivo – Cosmotron (2003)
Videografia Skank (2002)
MTV Ao Vivo – Skank (2001)

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