Beto Bruno fala sobre decepção em show dos Stooges, disco feito na pandemia e a estrada
Beto Bruno começou, há pouco menos de 5 anos, uma outra fase da carreira, mais parecida com suas raízes, o palco segue o mesmo, mas os companheiros entre um show e outro estão variando um pouco mais. Depois de 20 anos e 8 álbuns de estúdio com a banda gaúcha Cachorro Grande, de 1999 a 2019, ele voltou e desde então lançou dois discos solo e tem rodado o país com sua banda e também como convidado de outras bandas.
O músico estará em Uberlândia no próximo sábado (7), a convite do projeto social Rock Aid (leia mais aqui), junto com os amigos da banda tributo Like a Rolling Stone.
Em uma entrevista inédita, que estava perdida entre alguns arquivos na nuvem dessa repórter, Beto Bruno conversou com o Uberground antes de uma de suas visitas à cidade e desta nova fase.
Grato a tudo que a Cachorro Grande lhe proporcionou, principalmente os grandes festivais, ele recorda de um momento marcante. Em novembro de 2005 eles participaram da segunda e até hoje última edição do festival Claro Que é Rock, que teve apenas mais uma edição depois dessa. No line up, de Cachorro Grande a Sonic Youth, passando pelo icônico Iggy Pop & The Stooges. O músico recorda a experiência.
Foi o primeiro grande festival da Cachorro Grande, que já havia passado por várias capitais e se apresentado no Planeta Atlântida para um público imenso, e fomos convidados para esse festival com várias bandas internacionais. Não se comparava a nada que já havíamos vivido. Imagina festivais que vi pela TV, moleque, como Rock in Rio ou Hollywood Rock, estava nesse nível e pra mim era algo tão distante e de repente estávamos ali, no mesmo palco que Iggy Pop. Isso significou muito porque era algo que eu não me permitia sonhar e de repente estava ali, com a minha banda, entre os maiores. Foi um momento de euforia, alegria, e um desabafo ao mesmo tempo, em nome do rock nacional.
Mas o lado fã ficou um pouco decepcionado. Beto assistiu as apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro. “O segundo foi praticamente igual ao primeiro. Muitos clássicos, truques interessantes de palco, porém eu esperava algo mais visceral e menos ‘teatrinho’, parecia roteirizado, isso decepcionou um pouco e conversando com a banda comentamos que nunca chegaríamos naquele ponto”, comentou Beto, que já havia assistido a shows dos Rolling Stones umas dez vezes e não se lembra de ver um show igual ao outro.
E Beto Bruno, ex-aluno da Escola Estadual Bueno Brandão, onde conheceu Hugo Barata, da banda Venosa, valoriza todos os encontros que a música lhe proporciona. “O Hugo é um dos grandes amigos que tenho em Uberlândia, com quem já dividi o palco várias vezes e sou muito orgulhoso de tudo que ele construiu com a Venosa”, explicou.
No show de sábado, outros grandes amigos estarão lado a lado com ele. A banda Like a Rolling Stone é um tributo aos britânicos que são parte fundamental da história do rock, e ídolos de Beto Bruno.
DISCO NOVO E UMA SURPRESA
Beto Bruno lançou dois álbuns, “Depois do Fim”, (2019) e “O Escudo do Arcanjo Miguel”, de 2021. O primeiro saiu logo após o fim da Cachorro Grande e depois de um mês, veio a pandemia. “O disco saiu exatamente um mês depois que saí da banda. Fiz shows em Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre. E veio a pandemia. O disco não teve turnê, não tinha como encontrar os meninos e o que mais eu podia fazer? Outro disco”.
“Os meninos” são os músicos Eduardo Schuler (bateria), Pedro Lipatin (guitarras e vocais de apoio) e Sebastião Reis (violão e vocais), além de Tavarez (baixo) e Pelotas (piano, órgão e sintetizador).
“Foi uma época terrível, somente eu e o violão e compus as oito faixas do álbum”, contou. E assim começou a tomar forma “O Escudo do Arcanjo Miguel”. Lançado em formato físico (CD e vinil) e digital, ele traz músicas que marcaram também o retorno à estrada. E sobre esse trabalho, o músico explica:
A grande diferença aqui é que eu estava sozinho e pensando bastante, refletindo com o que estava acontecendo no mundo. Foi aí que me dei conta de que nunca havia falado sobre mim num disco da Cachorro Grande. Não me sentia à vontade. Agora era diferente, desde a primeira letra levei nesse tom de desabafo, colocando pra fora o que ficou contido por mais de 20 anos e posso te dizer que é o trabalho mais importante da minha carreira.
Beto define esse processo como natural. Se permitiu sentir uma mudança que já vinha acontecendo. “Estava me tornando mais espiritual. A cada ano me afastando mais dos excessos da estrada e o período de isolamento forçado contribuiu com isso, que desembocou nesse segundo disco”.
No final de dezembro, em suas redes sociais, Beto Bruno comentou sobre os últimos shows de 2022, que depois de dois anos foi marcado pela retomada dos shows ao vivo, e este foi seu foco. Ele escreveu que teve pontos altos e baixos, como todo ano, e destacou o reencontro com os “irmãos da Cachorro Grande” em São Paulo e Porto Alegre.
Beto Bruno também confirmou que gravará neste ano seu terceiro disco solo em São Paulo, com os mesmos músicos que o acompanharam nos anteriores. Mas antes, promete um lançamento, ainda guardado a sete chaves.