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Marisa Monte em foto de Leo Aversa

Marisa Monte faz show em Uberlândia na quinta e em entrevista exclusiva fala desse momento de celebrar o coletivo na arte e na vida

Marisa Monte está na estrada novamente, matando a saudade do seu público, do compartilhar suas músicas com a plateia, de trocar essa energia única só possível naquela hora, naquele lugar, com aquelas pessoas. “Portas”, seu primeiro álbum de inéditas desde “O Que Você Quer Saber de Verdade” (2011). Nesse meio tempo, lançou o segundo álbum dos Tribalistas, ao lado de Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, o supergrupo brasileiro de sucesso internacional, e passou o período mais restritivo da pandemia alimentando a criatividade.

A turnê homônima está percorrendo o Brasil e outras cidades no exterior desde fevereiro e desembarca em Uberlândia nesta quinta-feira, 10 de novembro, na Arena Sabiazinho, a partir das 22 horas. Marisa Monte conversou com exclusividade com o Uberground para contar como está o retorno aos palcos.

A faixa título abre o álbum. “Portas” é um convite para o ouvinte entrar novamente no mundo de Marisa, num infinito não muito particular, como ela prefere. Ao longo de 18 músicas, fechando com “Feliz, Alegre e Forte”, sua identidade irretocável na voz, nos arranjos, nas parcerias e no dom que ela tem de transformar complexidade em simplicidade.

Videoclipe de “Portas”, faixa título do nono álbum de Marisa Monte (Reprodução YouTube)

Marisa Monte tem uma formação musical sólida, sempre estudou muito e quando se lançou como cantora e compositora parecia saber exatamente onde queria chegar. Perguntei como funciona para ela, o processo de fazer música, o compor, atualmente e se mudou muito ao longo do tempo. Ela responde:

A música que faço é um resultado de tudo que escutei ao longo da minha vida, um caldeirão sonoro que se mistura criando uma nova combinação de referências, fruto da minha experiência de vida. ‘Portas’ é um disco que celebra o coletivo na arte e na vida com formato de produção ao vivo no estúdio, com dinâmica própria, intensidade e alívio da respiração humana.

Marisa Monte recrutou um time e tanto para essa turnê. No palco, ela conta com seu parceiro de longa data, Dadi (baixo, violões e piano), Davi Moraes (guitarra), Pupillo (bateria), Pretinho da Serrinha (percussão e cavaquinho), Chico Brown (violões e piano), Antonio Neves (arranjo dos metais e trombone), Eduardo Santana (trompete) e Oswaldo Lessa (saxofone e flauta).

SERVIÇO
O QUE: Turnê “Portas”
QUEM: Marisa Monte
QUANDO: quinta-feira, 10 de novembro
HORÁRIO: 22h (abertura dos portões às 20h)
LOCAL: Arena Sabiazinho (Uberlândia-MG)
INGRESSOS: a partir de R$ 150 – à venda pelo site Eventim
REALIZAÇÃO: BConcerts

Episódio da websérie Tour Portas apresenta a banda que acompanha Marisa Monte (Reprodução YouTube Marisa Monte)

Relação com o público traz sempre música em primeiro plano

É fácil dizer: “Marisa Monte dispensa apresentações”, mas cá entre nós, não seria justo. É bom lembrar que essa mulher tem quatro prêmios Grammy Latino, por enquanto, dois discos no Top 100 da revista “Rolling Stone Brasil” e segundo esta mesma revista é a quarta maior cantora brasileira, atrás de Elis Regina, Gal Costa e Maria Bethânia. Marisa é cantora, compositora, multi-instrumentista, tem o próprio selo e como produtora assina trabalhos importantes principalmente para o resgate do samba.

Uma pesquisa dela, por exemplo, resultou no documentário “Velha Guarda da Portela em O Mistério do Samba”, que mostra o cotidiano e as histórias da Velha Guarda da Majestade do Samba carioca. A direção é assinada por Carolina Jabor e Lula Buarque de Hollanda.

Apesar da riqueza de seu trabalho e do talento, Marisa Monte não é de estar em manchetes de jornais ou em vídeos que viralizam a ponto de se tornarem globais na mesma rapidez em que são esquecidos. Ela consegue manter a vida pessoal longe dos holofotes e das colunas de fofocas e celebridades. Outra ponto é sua capacidade de não se sentir pressionada nem pelo mercado, nem por ela mesma a produzir algo sem propósito:

A minha relação com o meu público sempre teve a música em primeiro plano. Ela me guiou, me deu régua e compasso e criou um caminho pra mim. Mas o processo criativo tem vida própria, a gente se coloca a serviço. Eu nunca cobrei de mim ser mais do que eu fosse capaz e sempre dei o meu melhor e respeito os meus limites.

“Portas” foi concebido entre vários países. Se conectar com outros artistas, mesmo que virtualmente, é algo que enriquece o trabalho, se bem que essa distância talvez não tivesse existido se não fosse a pandemia porque no início de 2020 os planos de Marisa Monte eram entrar em estúdio já em maio daquele ano. O repertório já estava praticamente pronto, com diversos parceiros e só esperando a hora certa de gravar. E como todo mundo, em março de 2020, Marisa precisou rever seus planos e entrou no que ela chamou de “inevitável pausa de mil compassos”. Foi quando o repertório aumentou e ela fez “Vagalumes”, com Arnaldo Antunes e “Sal” e “Você não Liga” com o Marcelo Camelo.

Em novembro, uma pequena equipe, comprometida e testada , entrou em estúdio no Rio de Janeiro. Impossibilitada de ir a Nova York, onde montaria uma segunda banda, veio a possibilidade de gravação remota. O co-produtor Arto Lindsay e sua banda gravaram na rua 37 em NY e a banda de Marisa no Rio, via Zoom. Mais confiante, alternaram-se gravações presenciais no Rio com gravações remotas em Lisboa (arranjos do Marcelo Camelo) e Los Angeles (voz de Flor). A mixagem foi feita com engenheiros no Rio, Los Angeles e Nova York.

E não teria como ser diferente porque antes de os “feats” virarem moda, Marisa Monte já colecionava uma série deles em sucessos atemporais da sua discografia. E tudo vem naturalmente, não para forçar algo que seja conveniente para o momento:

Gosto de preservar e expandir minhas parcerias. Gosto da troca, da soma e acredito na mistura, sou aberta, curiosa, interessada. Tenho parceiros como Paulinho da Viola, Erasmo Carlos e João Donato bem como Silva, Chico Brown e Flor, de várias gerações diferentes. São escolhas naturais que vão acontecendo a partir dos encontros e da admiração mútua.

Uma experiência audiovisual

Capa de “Portas”, arte de Maracela Cantuária (Divulgação)

O álbum também tem uma identidade visual única, graças à visão da artista plástica Marcela Cantuária, convidada por Marisa para fazer parte desse processo. Durante os dois anos de pandemia, quando a janela para o mundo muitas vezes era a tela do celular, Marisa conheceu um pouco mais do trabalho da artista, sem fazer alarde, até convidá-la para cuidar da arte que deu forma às canções. Para Marisa, foi uma forma de trazer mais feminilidade para um meio majoritariamente masculino.

No palco, coube aos co-diretores Batman Zavareze e Cláudio Torres, junto com Marisa, transpor essa identidade. Eles o fizeram projetando imagens a partir de um trabalho da artista plástica Lúcia Koch, a série “Fundos”. A turnê tem sido muito elogiada por onde passa, afinal, foi um momento muito aguardado:

Estamos vivendo ano intenso de muitos shows e viagens, já estivemos na Europa, Estados Unidos, América Latina e Brasil e por onde a gente passa tem sido emocionante reencontrar o público, fãs e os amigos.

Marisa Monte durante show da turnê que chega na quinta em Uberlândia (Leo Aversa)

Viver o agora

No ano 2000 Marisa Monte lançou o “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor”, a turnê rendeu um rico material ao vivo. Pergunto à Marisa se podemos ter algo semelhante para celebrar três décadas de carreira, de repente, um documentário com direção dela junto com Nelson Motta, um grande parceiro da artista:

Meu projeto no momento é a turnê que começou em fevereiro e ainda vai se estender pelo menos até o meio do ano que vem. Registramos o show ao vivo, em outubro no Rio, e provavelmente o próximo projeto será fruto desse registro em audiovisual.

Entrevista de Marisa Monte a Nelson Motta para o Amazon Music, de 2021 (Amazon Music)

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