Uberground

Narciso Telles é professor do curso de Teatro da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), é pesquisador, e ator. E com toda a bagagem e experiência que acumulou ao longo dos anos ainda permite se desafiar. Ele está em cena, neste final de semana, em “Fritzl: Agonista”, no Palco de Arte do UAI Q Dança. Na produção, ele vive um personagem indigno de qualquer simpatia. Um criminoso… um sequestrador… um “monstro”.

Para o ator, dois aspectos foram mais desafiadores na composição do personagem. O primeiro foi a aproximação, que ele chama de modo de habitar um campo ficcional desse homem.

Foi um desafio entender o que é perversão na sociedade humana e de alguma maneira encarná-la a partir de um texto ficcional baseado em fatos reais.

Narciso Telles

O segundo desafio diz respeito à condição física e técnica para a composição do personagem. Alguns meses antes do início da preparação para o espetáculo, Telles testou positivo para Covid-19. “Cheguei a ficar na UTI, foi um período complicado. Aos poucos fui me restabelecendo e voltando a ensaiar”, contou, em entrevista ao Uberground.

Esse personagem é inspirado em Josef Fritzl, conhecido como o “Monstro de Amstetten”, julgado e condenado à prisão perpétua na Áustria pelos crimes de incesto, estupro, cárcere privado e homicídio em dois casos de encarceramento de mulheres.   

O espetáculo do Núcleo 2 Coletivo de Teatro traz à tona o raptor e responsável pelas ações para, então, localizar o surgimento do “monstro” na sociedade. No roteiro, entende-se a normalidade como espaço perfeito para a existência de pessoas como Fritzl. A relação entre a figura masculina, paterna, a qual se atribui o poder divino contrapõe a figura feminina, enclausurada na profundeza vertiginosa e obscura da dita feminilidade frágil que deve ser protegida. O homem mediano enxerga no horror uma possibilidade de afirmação.

E para entender melhor o que se passa pela mente de uma pessoa com esse perfil, a equipe de produção se encontrou com estudantes e docentes de cursos de Psicologia de duas universidades de Uberlândia. “Enxergamos essa conexão entre os cursos de Psicologia e quem está relacionado às artes. É uma forma de entendermos como melhor discutir esse assunto nas peças que vão levar essa discussão para a sociedade”, explicou a produtora Karina Silva.

A arte tem esse papel de gerar discussões, não de julgar e para o protagonista de “Fritzl: Agonista”, Narciso Telles, a atuação e a pesquisa estão sempre juntas.

Eu não desassocio esses dois trabalhos dentro do meu percurso artístico e acadêmico porque a metologia que eu uso para desenvolver minhas pesquisas como investigador do campo da atuação e da improvisação é a investigação-criação.

Narciso Telles

Telles comenta que ao montar, dirigir espetáculos e estar envolvido com qualquer processo artístico é sua metodologia de pesquisa. “São nesses processos que novas perguntas aparecem e ao mesmo tempo que trabalho em uma obra começo a desenvolver uma reflexão sobre o processo que gera catálogos, artigos, capítulos de livro, vídeos-ensaios. É nesse movimento conjunto que o investigador e o ator se fazem presente todo o tempo”.

O ator convida o público para comparecer ao Palco de Arte para compartilhar desse momento propenso a lançar mais questionamentos do que respostas.

SERVIÇO

O QUE: Espetáculo teatral “Fritzl: Agonista”

QUEM: Núcleo 2 Coletivo de Teatro

QUANDO: 13 e 14 de agosto

HORÁRIO: 19h

LOCAL: Palco de Arte – Rua Coronel Manoel Alves, 22, Fundinho

INGRESSOS: R$ 28 (inteira) e R$ 14 (meia-entrada) disponíveis aqui ou na bilheteria do local, sujeito a disponibilidade

CLASSIFICAÇÃO: 18 anos

Quem faz o espetáculo acontecer

aculdades da cidade

Quem faz o espetáculo acontecer

TEXTO: Emilio García Wehbi | ATUAÇÃO: Narciso Telles | DIREÇÃO: Rafael Michalichem | ILUMINAÇÃO: Mario Leonardo | PREPARAÇÃO CORPORAL: Nádia Yoshi | CONFEITARIA: Aline Jorge | PRODUÇÃO: Karina Silva | ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO: Anna Júlia | REALIZAÇÃO: Núcleo 2 – Coletivo de Teatro